Moradores e automobilistas denunciam riscos à saúde, acidentes e abandono por parte das autoridades municipais
Um grupo de transportadores semi-coletivos da rota Zimpeto–Matendene, na cidade de Maputo, decidiu paralisar as suas actividades nesta segunda-feira (9) em protesto contra a permanência de águas estagnadas no troço compreendido entre o Mercado e a Escola Quisse Mavota. O problema, que se arrasta há meses, foi agravado pelas recentes chuvas, transformando o local num verdadeiro foco de insalubridade e perigo constante para automobilistas e peões.
Segundo relatos recolhidos pela nossa reportagem, os condutores afirmam ter alertado, por diversas vezes, as estruturas do bairro e as autoridades municipais, no sentido de serem tomadas medidas para a drenagem da água. No entanto, os apelos não surtiram efeito, levando os transportadores à decisão extrema de bloquear a estrada e interromper o transporte de passageiros como forma de chamar a atenção das entidades competentes.
“Já falámos com os responsáveis do bairro e pedimos que mobilizassem esforços para resolver a situação, mas até hoje nada foi feito. Somos obrigados a arriscar os nossos veículos e vidas dos passageiros todos os dias”, lamentou Arnaldo Muando, motorista de um dos semi-coletivos que opera na zona.
População local também sofre com o problema
O impacto das águas estagnadas estende-se muito além dos transportadores. Os moradores do troço afetado demonstram frustração e desespero. Muitos tiveram que abandonar as suas residências, agora invadidas por animais vadios que transformaram o local num esconderijo.
Dona Belucha, residente nas proximidades da via e utente habitual da mesma, contou à nossa equipa que sofreu um acidente quando tentava atravessar o trecho alagado. “Caí numa vala coberta de água e desde então fiquei com sequelas. Hoje sou considerada inválida. Isso aconteceu à vista de todos, e até hoje não obtive qualquer apoio”, denunciou.
Perigo real para a saúde e segurança
Além do transtorno e prejuízo económico, especialistas alertam para os perigos que as águas estagnadas representam para a saúde pública e para a segurança viária. Ambientes com acumulação de água por longos períodos tornam-se verdadeiros criadouros de mosquitos, vetores de doenças como malária, dengue e febre-amarela. Em áreas urbanas, estas poças também se tornam pontos de proliferação de ratos e outros animais transmissores de doenças como a leptospirose.
No que diz respeito ao tráfego rodoviário, os riscos são igualmente elevados. Águas acumuladas podem esconder buracos, objetos cortantes ou valas profundas, que colocam em risco os veículos e os transeuntes. O piso molhado e irregular aumenta drasticamente a probabilidade de acidentes, como derrapagens, colisões e quedas de peões.
“É impossível circular naquele ponto com segurança. Os carros atolam, os peões escorregam, e à noite torna-se ainda mais perigoso porque não há iluminação pública”, disse outro residente que preferiu não se identificar.
Protesto como último recurso
Face ao silêncio das autoridades, os transportadores decidiram paralisar as operações como forma de protesto. “Não é nossa vontade deixar os passageiros sem transporte, mas já não podemos continuar a ignorar o perigo que essa situação representa”, afirmou um dos líderes do movimento.
A interrupção no serviço causou grandes transtornos aos utentes, sobretudo à população que depende dos semi-coletivos para se deslocar até ao trabalho, escolas e outras atividades diárias. Alguns cidadãos recorreram a caminhadas longas ou ao uso de mototáxis, que também demonstraram receio em circular pela área afetada.
“Perdi a primeira aula do dia porque esperei mais de uma hora e não apareceu nenhum ‘chapa’. Depois tive que andar até o Zimpeto para tentar apanhar outro transporte”, contou Sara Gimo, estudante da Escola Secundária de Matendene.
Chamado urgente à edilidade
Os manifestantes afirmam que só irão retomar as suas atividades quando as autoridades municipais intervirem com ações concretas para resolver o problema. “Queremos soluções, não promessas. Já chega de esperar. Só vamos voltar a trabalhar quando a estrada estiver em condições de circulação”, reiterou um dos representantes dos transportadores.
A situação exige uma intervenção urgente e coordenada entre os órgãos municipais, serviços de saneamento e comunidade local. Além da drenagem imediata das águas, é necessário investir em obras estruturais para garantir que o problema não se repita nas próximas chuvas. Canais de escoamento mal projetados, falta de manutenção nas valas de drenagem e urbanização desordenada são algumas das causas apontadas por engenheiros civis ouvidos pela nossa redação.
Soluções a longo prazo
A resolução do problema passa não apenas pela resposta imediata à crise atual, mas também por uma abordagem estratégica e sustentável. Especialistas recomendam:
- Melhoria do sistema de drenagem: Investimentos em infraestruturas que permitam o escoamento eficiente da água das chuvas.
- Educação comunitária: Sensibilização dos moradores para não obstruírem valas e sarjetas com lixo.
- Manutenção periódica: Limpeza regular dos sistemas de drenagem, especialmente antes e durante a época chuvosa.
- Planeamento urbano inclusivo: Consideração de áreas de risco na planificação de novas vias e loteamentos.
Enquanto não forem tomadas medidas eficazes, o problema tende a agravar-se, colocando em risco a vida e o bem-estar de milhares de cidadãos que usam a rota Zimpeto–Matendene diariamente.