Maputo – O Governo de Moçambique prevê colher cerca de 90 toneladas de café ao longo do ano de 2025, no âmbito de uma estratégia nacional de revitalização da cultura cafeeira, associada ao desenvolvimento agrícola e à diversificação da economia.
O anúncio foi feito na manhã desta quinta-feira (12), em Maputo, pelo Secretário de Estado do Mar e Pescas, Momade Juízo, durante a cerimónia de abertura da Expo Café Moçambique 2025.
Sob o lema “Do cultivo à degustação: celebrando os 50 anos da independência de Moçambique”, o evento integra-se nas festividades do cinquentenário da independência nacional e visa promover o café como um dos produtos estratégicos do setor agrário.
A feira, que reúne produtores, investigadores, investidores e consumidores, acontece num contexto de crescente aposta governamental na valorização das culturas tradicionais e de alto valor no mercado internacional.
Segundo Momade Juízo, a produção de café em Moçambique envolve atualmente mais de quatro mil pequenos agricultores, com áreas de cultivo que variam entre 0,5 e 1 hectare, localizados essencialmente nas províncias de Manica, Sofala, Cabo Delgado e Maputo. “O nosso país dispõe de condições agroecológicas favoráveis para o cultivo do café em praticamente todo o seu território, o que representa uma vantagem competitiva que deve ser melhor explorada”, afirmou o governante.
Estratégia decenal e integração internacional
De acordo com o Secretário de Estado, o Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural (MAAP) e seus parceiros têm vindo a implementar uma série de iniciativas com o objetivo de estruturar e fortalecer a cadeia de valor do café.
Uma das principais acções em curso é a elaboração da Estratégia de Desenvolvimento da Cafeicultura de Moçambique, com um horizonte temporal de dez anos. O documento encontra-se em fase de consulta pública junto aos diversos intervenientes do setor.
Paralelamente, Moçambique já concluiu o processo de adesão à Organização Internacional do Café (OIC) e prepara-se para integrar a Organização Interafricana do Café (IACO), com o objetivo de beneficiar das plataformas de partilha de conhecimento, experiências e acesso a novos mercados. “Queremos que Moçambique seja um actor relevante nas discussões regionais e globais sobre o café”, sublinhou Juízo.
Outras iniciativas em curso incluem a formação de pequenos agricultores em técnicas de produção, controlo de pragas e doenças, educação financeira, gestão de negócios, acesso ao crédito e mercados sustentáveis. Também está em curso o georreferenciamento das áreas de cultivo, o que facilitará a certificação, rastreabilidade e integração de Moçambique no mercado global.
Aposta em ciência e inovação
No domínio da investigação científica, o Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM) tem beneficiado de cooperação internacional, com destaque para a formação de dois investigadores em melhoramento genético de café, no Quénia. Em Marracuene, foi instalada uma estufa com rega automatizada no Centro de Investigação Agroflorestal, com o apoio de parceiros estratégicos.
O país aposta ainda na massificação da produção de mudas de café, com o envolvimento de viveiros comunitários e assistência técnica permanente. “Estamos a construir uma base sólida para que a cafeicultura se torne uma fonte estável de rendimento para milhares de famílias moçambicanas”, frisou o Secretário de Estado.
Recorde-se que, em junho de 2024, o então Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural realizou o Primeiro Festival do Café de Moçambique, evento que serviu como catalisador para o aumento da visibilidade do setor. “Aprendemos que é necessário investir mais em pesquisa, desenvolver parcerias internacionais e criar mecanismos de acesso aos mercados globais. Estes desafios estão hoje na base da nossa intervenção”, indicou Juízo.
Formação e criação do Coffee Hub
A formação tem sido um dos pilares fundamentais da estratégia nacional para o desenvolvimento da cafeicultura. Vários técnicos do setor agrícola, representantes de associações de produtores e empresas têm frequentado cursos de mestrado e curta duração em instituições internacionais de referência, como a Universidade de Trieste, na Itália, o Instituto Agronómico Mediterrâneo de Bari e o Centro de Excelência em Café da Etiópia.
Com o objetivo de reforçar as capacidades locais e dinamizar a promoção do café moçambicano, o Governo solicitou à Agência Italiana para a Cooperação ao Desenvolvimento (AICS) e à Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO) apoio para a criação de um centro especializado em Maputo. Trata-se do Coffee Hub, uma plataforma a ser instalada nas instalações da Feira de Artesanato, Flores e Gastronomia (FEIMA), em estreita parceria com o Conselho Municipal da Cidade de Maputo.
“O Coffee Hub será um espaço multifuncional para a formação, promoção e degustação do café nacional, ligado a produtores, torrefadores, baristas e consumidores”, anunciou Juízo, sublinhando o seu papel estratégico na valorização do produto e na construção de uma identidade moçambicana forte no universo da cafeicultura.
Desafios e perspectivas
Durante a Expo Café 2025, especialistas nacionais e estrangeiros vão partilhar experiências e debater os principais desafios do setor, entre os quais a necessidade de maior investimento em infraestruturas de pós-colheita, acesso a financiamento, certificações de qualidade e branding internacional. Também serão apresentadas novas variedades adaptadas às condições climáticas de Moçambique e projectos de cooperação com países produtores de renome, como Brasil, Colômbia, Etiópia e Uganda.
A presença de consumidores e entusiastas do café na feira é vista como uma oportunidade para educar o público sobre os sabores e características do café moçambicano, bem como para fomentar o consumo interno, ainda relativamente baixo em comparação com outros países africanos.
“Temos um grande potencial para fazer do café uma cultura de referência, que contribua para a industrialização, criação de emprego e inclusão social”, concluiu Momade Juízo, encorajando os produtores a continuarem a apostar na qualidade e sustentabilidade da produção.
Presente no evento, o vice-presidente da Associação de pequenas e medias empresas (APEME), Silva Pedro, disse existir enormes desafios no sector, mas julgou a pertinência de ser uma aposta para o empresariado nacional e do governo em apoiar e incentivar a produção em larga escala desta cultura de rendimento.
A Expo Café Moçambique 2025 decorre ao longo de vários dias na capital do país, com sessões de degustação, exposições, mesas-redondas e apresentações de novos projectos, sendo considerada uma das mais importantes plataformas para a consolidação da cafeicultura nacional.