Maputo, Junho de 2025 – A derrota da seleção nacional de futebol diante da congénere da África do Sul, por 2-0, num jogo amigável disputado em Polokwane, foi recebida com uma onda de críticas, desilusões e, simultaneamente, lições estratégicas. O encontro, apesar de não ter caráter competitivo direto, inseriu-se no calendário oficial da FIFA, implicando efeitos reais no ranking internacional da seleção moçambicana.
Numa conversa com o analista desportivo Adão Matimbe, disse a IsocMedia, que a seleção de todos nós tem condições para se apuras tanto para o Can que se avizinha como para o mundial de 2026.
A exibição dos Mambas foi, para muitos analistas e adeptos, a mais fraca desde que Chiquinho Conde assumiu o comando técnico da seleção. Num jogo que deveria servir como plataforma para testes e observações, acabou por evidenciar lacunas estruturais e condicionamentos que, a médio prazo, poderão afetar os objetivos do país rumo à qualificação para a Taça das Nações Africanas (CAN) e para o Mundial.
Rodagem de Jogadores e Ausência de Referências
Com uma convocatória que excluiu nomes habituais como Reinildo Mandava, Geny Catamo, Guima, Clésio Baúque, Amadu e Pepo, o técnico nacional apostou na rotação e na observação de novos atletas. A ideia era clara: testar o plantel, avaliar respostas individuais em condições adversas e tirar ilações sobre alternativas futuras.
Contudo, o comportamento coletivo revelou falhas táticas, falta de entrosamento e limitações físicas e psicológicas. A equipa não implementou eficazmente a estratégia delineada, e a ausência dos habituais titulares evidenciou a frágil profundidade do plantel. O jogo revelou um desnivelamento acentuado entre os jogadores mais experientes e os que ainda procuram afirmação no escalão principal.
Contexto e Planeamento: Um Calendário Prejudicial
A derrota diante da África do Sul, seleção semifinalista da última CAN, também reflete fragilidades organizacionais. A preparação do jogo foi feita em cima da hora. O aviso da realização da partida surgiu apenas uma semana antes da data FIFA, o que limitou o tempo de preparação e dificultou a logística da convocatória.
A nível interno, o Moçambola, principal competição nacional, estava apenas na sua segunda jornada e foi interrompido para dar lugar à preparação do jogo. Este aspeto contribuiu para a fraca condição física e ritmo competitivo dos atletas locais, sobretudo após seis meses de paragem competitiva em virtude de questões administrativas e logísticas.
Chiquinho Conde, que recentemente alterou parte da sua equipa técnica – incluindo a substituição do habitual preparador físico da União Desportiva do Songo – viu-se obrigado a lidar com uma nova estrutura de trabalho, métodos diferenciados e ausência de continuidade no treino físico dos jogadores.
Luz ao Fundo do Túnel: O Caso Ivane Urrbal
Apesar da exibição globalmente negativa da equipa, o jogo revelou um nome que brilhou em meio ao caos: o guarda-redes Ivane Urrbal. Longe da titularidade há meses, e vindo de um litígio com a sua equipa, o guarda-redes assumiu a baliza com autoridade e realizou defesas decisivas que evitaram um resultado mais humilhante.
A atuação de Ivane não só reacendeu o debate sobre quem deve ser o número um da baliza nacional – disputa até então dominada por Hernane Siluane –, como também chamou a atenção de clubes sul-africanos. Entre especulações, surgem rumores de que o Kaiser Chiefs, uma das principais equipas da África do Sul, possa estar interessado no jogador, o que, se confirmado, representaria um salto qualitativo tanto para o atleta quanto para a seleção.
A possível internacionalização de Ivane seria um reforço de peso para os Mambas, visto que há anos a seleção carece de guarda-redes a atuar no estrangeiro. Este tipo de exposição ajuda a elevar o patamar competitivo e a confiança do grupo de trabalho.
Lições Estratégicas e Caminhos a Trilhar
O episódio da derrota frente à África do Sul deve ser encarado, segundo vários analistas desportivos, como uma oportunidade de reavaliação. Primeiro, torna-se claro que a seleção precisa cumprir, com rigor, todos os jogos previstos no calendário FIFA. A consistência competitiva é fundamental para a consolidação tática e o fortalecimento psicológico do grupo.
Historicamente, quando Moçambique aproveitou ao máximo as datas FIFA, os resultados apareceram. Foi assim na última campanha de qualificação para a CAN, quando os Mambas tiveram uma sequência positiva de jogos internacionais, que permitiram afinar a coesão da equipa.
Além disso, é urgente a introdução de jogos interprovinciais e torneios de desenvolvimento interno, de modo a alargar a base de recrutamento e permitir que os jogadores locais ganhem mais ritmo competitivo. A Federação Moçambicana de Futebol (FMF), com a sua estrutura técnica liderada por Armando Salvado, deve redobrar esforços para criar e manter plataformas de observação contínua e qualificação técnica.
O Futuro Não Está Comprometido
Apesar da fraca prestação frente à África do Sul, os objetivos da seleção nacional continuam intactos. Moçambique ainda tem hipóteses reais de qualificação para o Campeonato do Mundo e para a próxima Taça das Nações Africanas. O plantel, embora em fase de reformulação e rotação, dispõe de talento e margem de progressão.
As próximas janelas de jogos internacionais serão determinantes. Espera-se que até lá os jogadores estejam em plena atividade, tanto no campeonato nacional como nos respetivos clubes no exterior. Com mais ritmo, integração e preparação, os mesmos atletas que falharam agora poderão dar respostas mais positivas.
Chiquinho Conde continua a ser visto como um técnico competente, com ideias claras e capacidade de liderança. O seu trabalho foi elogiado noutras ocasiões, e a atual adversidade poderá servir de base para um relançamento ainda mais consistente da seleção.
Conclusão: Um Chamamento à Reflexão e à Ação
O jogo de Polokwane ficará marcado como um ponto de viragem. Não pelos golos sofridos, mas pelas verdades reveladas. A seleção nacional precisa de se preparar melhor, competir mais e exigir mais de si mesma. O momento é de autocrítica, mas também de união em torno de um projeto que já deu provas de evolução.
A FMF, os clubes, os jogadores e os adeptos têm um papel a desempenhar. O caminho rumo aos grandes palcos internacionais não será feito sem tropeços, mas será mais sólido se cada lição for aproveitada.
Que a derrota se transforme em motivação, que Ivane inspire outros e que o sonho de ver os Mambas no Mundial ou a brilhar na CAN se mantenha vivo – alimentado por trabalho, estratégia e fé no talento nacional.