Por Redacção | Junho de 2025
O Médio Oriente voltou a mergulhar num cenário de elevada tensão militar e diplomática, após o Irão lançar uma vaga de retaliações contra Israel, em resposta aos ataques israelitas sobre instalações nucleares e alvos militares estratégicos em território iraniano.
A troca de mísseis entre as duas nações reacende receios de uma guerra total na região e ameaça desestabilizar não só o equilíbrio de segurança regional, como também o frágil quadro diplomático internacional.
Na madrugada da última sexta-feira, sirenes de alerta soaram em várias cidades israelitas, incluindo Telavive, anunciando a chegada de mais de uma centena de mísseis balísticos disparados pelo Irão.
O ataque, considerado uma das mais significativas investidas iranianas desde o fim da guerra Irão-Iraque nos anos 1980, foi descrito pelo Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica como uma resposta “esmagadora e precisa” aos recentes bombardeamentos israelitas.
Segundo informações fornecidas pelas Forças de Defesa de Israel (FDI), grande parte dos projéteis foi intercetada com apoio de sistemas antimísseis norte-americanos, enquanto outros atingiram diretamente edifícios residenciais e infraestruturas civis.
Pelo menos 40 pessoas ficaram feridas, sendo duas em estado crítico, como confirmou o porta-voz do Ministério da Saúde israelita.
Khamenei: “Israel não sairá ileso”
Em Teerão, o Líder Supremo do Irão, ayatollah Ali Khamenei, dirigiu-se ao povo iraniano num tom de desafio e condenação, afirmando que Israel “iniciou uma guerra” e que os ataques não ficarão impunes. “Não aceitaremos ataques de toca e foge. A nossa resposta será pesada e exemplar”, declarou, acusando o Estado hebraico de violar as normas internacionais ao atacar centros de investigação nuclear e assassinar altos quadros militares iranianos.
Khamenei, cuja retórica tem influenciado fortemente a política externa iraniana, acrescentou que “a nação iraniana deve ter a certeza de que a resposta do país não será mediana”. Estas palavras deixaram transparecer a disposição do regime em sustentar um confronto prolongado, caso Israel mantenha a sua ofensiva.
Netanyahu: “A nossa luta não é contra o povo iraniano”
Em contrapartida, Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, justificou os ataques ao Irão como uma ação defensiva contra “a crescente ameaça nuclear e balística representada pelo regime islâmico”. Segundo o governante israelita, os alvos atingidos foram cuidadosamente selecionados para limitar a capacidade bélica do Irão, sublinhando que “Israel não tem qualquer interesse em atacar o povo iraniano”.
Numa mensagem direta aos cidadãos iranianos, Netanyahu apelou à população para se insurgir contra a liderança do país. “Esta é a vossa oportunidade de se erguerem e fazerem ouvir as vossas vozes. O regime nunca esteve tão fraco”, afirmou, acrescentando que Israel continuará a “desmantelar as capacidades militares e nucleares do Irão com firmeza e precisão”.
Novo ataque israelita atinge central nuclear de Isfahan
Horas após o ataque iraniano, Israel intensificou a sua resposta com uma nova operação militar direcionada à central nuclear de Isfahan, um dos centros mais sensíveis e estratégicos do programa atómico iraniano. Fontes internacionais indicam que a ofensiva visou estruturas científicas e laboratórios associados ao enriquecimento de urânio.
A central de Isfahan localiza-se a cerca de 350 quilómetros de Teerão e abriga milhares de cientistas especializados, incluindo técnicos formados com apoio chinês e russo. Trata-se de uma instalação considerada fundamental para o desenvolvimento das capacidades nucleares iranianas.
De acordo com o chefe da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Rafael Grossi, os ataques causaram danos substanciais e resultaram em contaminação radiológica e química no interior das instalações. “A situação está sob controlo por agora, mas o risco de uma crise ambiental é real, caso os ataques se repitam ou atinjam os reatores principais”, alertou Grossi, apelando à contenção de ambas as partes.
Ameaça de Guerra Total
Com ataques e contra-ataques cada vez mais intensos, os analistas internacionais não escondem o receio de que os dois países estejam a caminhar para uma confrontação direta e prolongada, que pode arrastar outros atores regionais e internacionais.
A presença de forças norte-americanas, que já prestaram apoio a Israel na defesa antimíssil, aumenta a complexidade do tabuleiro geopolítico.
Os Estados Unidos, tradicional aliado de Israel, têm reforçado a sua presença militar no Médio Oriente e mantêm canais de comunicação com aliados da NATO e países do Golfo para monitorizar a situação.
Embora o Presidente dos EUA tenha apelado à “desescalada imediata”, fontes do Pentágono revelaram que Washington está a considerar mobilizar mais ativos navais e aéreos para a região, caso o conflito evolua para uma guerra aberta.
Impactos regionais e possíveis desdobramentos
Especialistas em política internacional alertam que a escalada entre Israel e Irão pode ter repercussões catastróficas em toda a região, desde o Líbano à Síria, passando pelo Iémen e Golfo Pérsico, onde milícias aliadas ao Irão já manifestaram intenções de retaliar contra interesses israelitas e norte-americanos.
Ao mesmo tempo, crescem as preocupações com o impacto sobre os mercados energéticos, com o preço do petróleo a subir 7% nas últimas 24 horas, e as bolsas asiáticas e europeias a reagirem em queda face à instabilidade. A União Europeia apelou a um cessar-fogo imediato e convocou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU.
A atual espiral de violência entre Irão e Israel representa uma das mais perigosas crises internacionais dos últimos anos, não apenas pelo potencial destrutivo das armas envolvidas, mas pelo simbolismo geoestratégico que os dois países carregam na disputa pela hegemonia regional.
Com ambas as lideranças determinadas a não recuar, o risco de uma guerra aberta aumenta a cada novo míssil lançado.
No meio deste conflito de titãs, milhões de civis permanecem reféns de decisões tomadas longe das suas realidades, enquanto o mundo observa, apreensivo, o desenrolar de um conflito que pode ultrapassar fronteiras e desafiar todos os esforços diplomáticos construídos nas últimas décadas.