Moçambique reafirma o seu compromisso com o desenvolvimento de infraestruturas resilientes e sustentáveis, através da assinatura de dois protocolos de cooperação com o grupo estatal chinês China Road and Bridge Corporation (CRBC).
Os acordos foram formalizados entre a Administração Nacional de Estradas (ANE), a empresa pública Rede Viária de Moçambique (REVIMO) e a multinacional chinesa, à margem da 16.ª edição do Fórum e Exposição Internacional sobre o Investimento e Construção de Infraestruturas, que decorreu em Macau, sob o lema “Integração e Simbiose para Construir um Futuro Sustentável”.
A cerimónia de assinatura foi testemunhada pelo Ministro dos Transportes e Comunicações, João Jorge Matlombe, que encabeçou a delegação moçambicana ao evento. Este acto marca uma nova etapa nas relações bilaterais entre Moçambique e a China, particularmente no domínio da engenharia civil e construção de estradas, sectores considerados estratégicos para a integração regional e o escoamento de produtos nacionais.
Os protocolos assinados preveem dois grandes projectos que visam melhorar significativamente a mobilidade e a infraestrutura logística do país:
- Construção de 78 km de Estrada na Província de Inhambane
Este troço rodoviário está projectado para ligar zonas produtivas ao litoral da província de Inhambane, facilitando o escoamento de produtos agrícolas, pesqueiros e mineiros. A ANE estima que o projecto irá beneficiar directamente mais de 250 mil habitantes locais e dinamizar o turismo, uma das principais actividades económicas da região. - Parceria Público-Privada para o Acesso ao Porto da Beira
No âmbito de uma Parceria Público-Privada (PPP), a CRBC irá cofinanciar e construir uma nova via de acesso ao Porto da Beira, principal ponto de entrada e saída de mercadorias para os países do hinterland (Zimbábue, Malawi e Zâmbia). Esta estrada irá descongestionar os actuais acessos e aumentar a eficiência logística do Corredor da Beira, tido como um dos mais estratégicos para a economia nacional.
A China tem sido, nas últimas décadas, um dos maiores parceiros de Moçambique em matéria de desenvolvimento de infraestruturas. Desde pontes, represas, centrais eléctricas até estradas nacionais, os investimentos chineses têm moldado a paisagem de desenvolvimento do país.
Ao intervir no Fórum de Macau, o Ministro Matlombe destacou que “as parcerias com a China são vitais não apenas pelo volume do investimento, mas sobretudo pela transferência de conhecimento técnico e experiência de engenharia que elas proporcionam.”
O governante reforçou ainda que Moçambique procura “modelos de financiamento que privilegiem a sustentabilidade fiscal e promovam a manutenção preventiva das infraestruturas”.
Por seu lado, representantes da CRBC afirmaram que a empresa vê Moçambique como uma plataforma estratégica para expandir as suas operações no continente africano. “Trabalhar com Moçambique representa mais do que negócios: é investir no futuro de África”, declarou Zhang Weimin, vice-presidente da CRBC.
Durante o encontro, o Ministro dos Transportes e Comunicações sublinhou os desafios colocados pelas mudanças climáticas, especialmente no que diz respeito à construção e durabilidade das estradas.
Referiu que, nos últimos cinco anos, Moçambique sofreu prejuízos severos devido a eventos climáticos extremos como os ciclones Idai, Kenneth e Freddy, os quais destruíram centenas de quilómetros de vias rodoviárias.
“A construção de estradas resilientes é hoje um imperativo nacional. Precisamos de projectos que resistam a inundações, erosão e ventos fortes.
Esta é a base para garantir conectividade permanente, mesmo em situações de emergência,” referiu Matlombe, acrescentando que “a engenharia moderna deve incorporar critérios climáticos no planeamento de cada obra pública”.
Neste contexto, o Governo moçambicano tem procurado parceiros internacionais que aliem experiência técnica e financiamento competitivo com práticas de engenharia verde.
Os protocolos agora assinados com a CRBC integram, segundo fontes oficiais, cláusulas ambientais e sociais mais exigentes, como forma de responder às novas exigências internacionais de desenvolvimento sustentável.
A 16.ª edição do Fórum de Macau reuniu delegações de todos os países de língua portuguesa e de várias províncias chinesas, num esforço para aprofundar a cooperação multilateral. Moçambique foi um dos países mais ativos, promovendo encontros bilaterais com potenciais investidores, bancos de desenvolvimento e agências de cooperação técnica.
Segundo fontes do Ministério das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos, a delegação moçambicana aproveitou a ocasião para apresentar o Plano Nacional de Infraestruturas 2025-2035, que prevê a reabilitação de mais de 2.500 km de estradas e a construção de novas vias estruturantes nos corredores de Nacala, Maputo e Ponta de Ouro.
Além dos acordos com a CRBC, foram também discutidos entendimentos preliminares com outras empresas chinesas ligadas à construção de pontes, fornecimento de materiais de construção e sistemas inteligentes de controlo de tráfego.
O Governo de Moçambique considera que o fortalecimento das infraestruturas de transporte é uma condição indispensável para atingir os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), nomeadamente o combate à pobreza, o crescimento económico inclusivo e a segurança alimentar.
João Matlombe reiterou, no seu discurso de encerramento em Macau, que o país pretende “assegurar a qualidade e durabilidade das obras públicas através de maior fiscalização, transparência na contratação e uso de tecnologias modernas”. Garantiu ainda que os projectos com a CRBC terão início ainda no segundo semestre de 2025, com cronogramas definidos e metas claras de execução.
A assinatura dos dois protocolos entre Moçambique e a China, através da ANE, REVIMO e a China Road and Bridge Corporation, representa mais um passo na consolidação de uma estratégia nacional de desenvolvimento infraestrutural inteligente, sustentável e adaptada às realidades climáticas.
Ao mesmo tempo, revela a capacidade diplomática e técnica de Moçambique em captar investimentos estruturantes em fóruns internacionais de elevado prestígio.
Num momento em que o país enfrenta enormes desafios logísticos e climáticos, a cooperação com parceiros estratégicos como a China surge como uma oportunidade inadiável para transformar o território nacional num verdadeiro corredor de desenvolvimento regional.