Moçambique figura como o segundo país com o maior número de deslocados internos na África Austral, segundo o Relatório Global sobre Deslocamentos Internos 2025 (GRID 2025), recentemente publicado pelo Internal Displacement Monitoring Centre (IDMC). O país é superado apenas pela República Democrática do Congo.
A crise moçambicana é impulsionada principalmente por dois fatores: o conflito armado que assola a província de Cabo Delgado e os desastres naturais recorrentes. Até o final de 2024, cerca de 580 mil pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas devido à violência em Cabo Delgado, enquanto 138 mil fugiram por causa de ciclones, inundações e outras catástrofes ambientais.
Embora os desastres naturais sejam responsáveis por novos deslocamentos todos os anos, o relatório destaca que o conflito continua a ser a principal causa de deslocamento prolongado no território moçambicano. O quadro humanitário no país ilustra uma realidade cada vez mais crítica em toda a região.
África Subsariana: o epicentro global dos deslocamentos
A situação em Moçambique insere-se num cenário mais amplo e alarmante: a África Subsariana continua a ser o principal foco de deslocamentos internos a nível mundial, com 19,3 milhões de novos deslocamentos apenas em 2024. Até ao final do ano, 38,8 milhões de pessoas viviam em situação de deslocamento interno na região — um número que representa cerca de 46% do total global.
Este dado reforça a urgência de atenção internacional. O relatório chama a atenção para o fato de que os dois países com os maiores números absolutos de deslocados internos no mundo são africanos: a República Democrática do Congo e o Sudão, ambos enfrentando crises humanitárias agravadas por conflitos armados persistentes e subfinanciados.
Um desafio global
Em termos globais, o GRID 2025 revela um novo recorde preocupante: 83,4 milhões de pessoas foram forçadas a abandonar os seus lares em 2024 — o número mais alto desde o início do monitoramento. Esse dado evidencia não apenas a escala crescente da crise, mas também a necessidade urgente de respostas coordenadas, sustentáveis e baseadas nos direitos humanos.
Um apelo à ação
A realidade enfrentada por centenas de milhares de moçambicanos deslocados — assim como por milhões em todo o continente africano — exige mais do que respostas emergenciais. É necessário um compromisso renovado da comunidade internacional para apoiar soluções duradouras, promover a paz, enfrentar as causas estruturais dos deslocamentos e garantir proteção e dignidade para os mais vulneráveis.
Moçambique, assim como muitos países da região, está no epicentro de uma crise silenciosa que clama por visibilidade, solidariedade e ação. O tempo para agir é agora.