IDES fortalece hortas familiares e distribui kits agrícolas a comunidades vulneráveis em Ancuabe
Com o objectivo de reforçar a resiliência alimentar das famílias deslocadas e camponeses vulneráveis no distrito de Ancuabe, o Instituto para o Desenvolvimento Económico e Social (IDES),uma organização da sociedade civil em parceria com o governo local, lançou um abrangente programa de distribuição de kits agrícolas e sementes, acompanhado de capacitação técnica em horticultura sustentável.
A iniciativa, inserida no âmbito do Projecto RISE, pretende reduzir a dependência alimentar e fortalecer os meios de vida das comunidades através da inovação agrícola e da valorização do saber local.
Redacção
As comunidades rurais de Metoro e Ancuabe Sede, província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, estão a testemunhar uma mudança significativa nas suas práticas agrícolas e na sua capacidade de garantir a segurança alimentar, graças à intervenção do IDES em coordenação com as autoridades distritais.
No âmbito do Projecto RISE, foram distribuídos kits agrícolas, sementes selecionadas e ferramentas essenciais para a horticultura, beneficiando dezenas de agregados familiares compostos por pessoas com deficiência, agricultores em situação de vulnerabilidade e famílias deslocadas pelos conflitos armados ou pela instabilidade climática.
A iniciativa tem como principal enfoque a transferência de conhecimento técnico e de pacotes tecnológicos adaptados às realidades locais, promovendo um novo paradigma de produção agrícola sustentável, baseado na autonomia e resiliência das famílias.
Durante a intervenção, os beneficiários foram capacitados em práticas de produção e maneio de culturas hortícolas, gestão de insumos, irrigação gota-a-gota e técnicas de controlo fitossanitário.
A aposta na formação prática, realizada directamente nas chamadas “Machambas Escolas do Camponês”, permitiu aliar o saber tradicional às inovações agrícolas mais eficazes, criando um ambiente de aprendizagem colectiva e de troca de experiências entre camponeses.
O encerramento desta acção simbólica foi marcado pela presença do Administrador Distrital de Ancuabe, Excelentíssimo Senhor Belmiro Casimiro, que dirigiu palavras de encorajamento às comunidades.
Na sua intervenção, o dirigente destacou que o combate à dependência alimentar só será possível com o envolvimento directo das populações nas soluções sustentáveis e adaptadas ao seu contexto. “A fome não se combate apenas com doações. Combate-se com conhecimento, com iniciativa local, com organizações como o IDES que vêm ao terreno ensinar, lado a lado com o camponês, e deixam capacidades instaladas”, sublinhou Casimiro, apelando para que mais organizações da sociedade civil sigam o exemplo.
O governante acrescentou que este tipo de acção, que se baseia na capacitação prática e na produção local de alimentos, é a chave para transformar a agricultura familiar em um verdadeiro motor de desenvolvimento.
Na ocasião, a fonte desafiou outras organizações não-governamentais nacionais a adoptarem abordagens semelhantes, onde o foco não seja apenas a entrega de insumos, mas sim a transferência de tecnologias de produção, a criação de laços duradouros com os produtores e o fomento de uma cultura de autossuficiência.
Em representação do IDES e dos parceiros do Projecto RISE, a coordenadora da iniciativa agradeceu o acolhimento e colaboração do Governo Distrital de Ancuabe, salientando que o sucesso da intervenção não seria possível sem o envolvimento das lideranças locais e das comunidades.
A responsável reiterou o compromisso da organização em manter uma presença constante no distrito, mobilizando esforços técnicos e humanos para expandir o número de beneficiários e assegurar que as tecnologias de produção hortícola se tornem parte integrante da rotina alimentar e económica das famílias.
A coordenadora apontou ainda que as comunidades de Ancuabe representam um exemplo de resistência e capacidade de regeneração. “Queremos continuar a apoiar, mas com enfoque na capacitação. O nosso papel é criar condições para que estas famílias não dependam de nós, mas saibam produzir, conservar e comercializar os seus alimentos com dignidade e autonomia”, disse. Afirmou também que a meta é alcançar outras zonas com condições similares, levando a metodologia testada em Ancuabe a novos distritos e regiões com elevado índice de insegurança alimentar.
A produção de hortícolas nas áreas baixas de Metoro e Ancuabe Sede tem já mostrado sinais promissores de impacto directo na dieta alimentar das famílias e no rendimento doméstico, uma vez que parte da produção poderá ser comercializada em mercados locais.
A abordagem do IDES, centrada em hortas familiares, micro-irrigação e controlo fitossanitário participativo, é considerada por especialistas como uma das mais eficazes para garantir segurança alimentar em contextos de vulnerabilidade prolongada.
Para muitos dos beneficiários, o apoio do IDES representa mais do que sementes ou ferramentas — é uma oportunidade para recomeçar com dignidade, após terem sido forçados a abandonar as suas terras por razões de conflito ou desastre natural. As hortas, para além de alimentos, devolvem esperança e perspectiva de estabilidade a centenas de famílias em situação de fragilidade.
Num momento em que Moçambique enfrenta múltiplos desafios, desde os efeitos das alterações climáticas até ao deslocamento forçado de populações, este tipo de intervenção ganha especial relevância.
O modelo de acção do IDES, focado na prática, no conhecimento local e na inclusão dos mais vulneráveis, reforça a ideia de que a segurança alimentar e o desenvolvimento sustentável são metas possíveis, desde que se promovam soluções enraizadas no território e impulsionadas pelas próprias comunidades.
Com o fim desta fase do Projecto RISE, o desafio que se coloca agora é o de dar continuidade e escalar a intervenção, garantindo que o conhecimento transmitido se multiplique e que mais famílias possam ser incorporadas nos programas de horticultura sustentável.
O apelo deixado pelo Administrador de Ancuabe e pelos representantes do IDES é claro: apostar na terra, no conhecimento e na força das comunidades é o caminho mais seguro para vencer a fome e construir um futuro mais justo e resiliente para todos.