Cooperação bilateral reforça laços estratégicos
Moçambique e Malawi intensificam os seus esforços conjuntos para consolidar mecanismos de cooperação nas áreas de defesa e segurança, com o objetivo de garantir a integridade territorial e salvaguardar o bem-estar das populações fronteiriças.
A décima sessão da Comissão Permanente Conjunta de Defesa e Segurança, que decorre desde esta segunda-feira até quarta-feira, na cidade de Maputo, constitui um marco significativo para o reforço da diplomacia militar entre os dois países vizinhos, que partilham preocupações comuns no domínio da segurança transfronteiriça.
Durante a conferência de imprensa realizada por ocasião do encontro, o Diretor Nacional de Política de Defesa no Ministério da Defesa Nacional de Moçambique, Anastácio Barraca, sublinhou que esta reunião visa avaliar, com minúcia, o grau de implementação das decisões adotadas na sessão anterior, bem como traçar novas metas para enfrentar os atuais desafios no setor.
De acordo com o responsável, as discussões concentram-se nas vulnerabilidades identificadas ao longo das fronteiras comuns, que exigem vigilância permanente e colaboração estreita entre as forças de segurança dos dois países.
“O que se pretende nesta décima sessão é refletir sobre o caminho trilhado até aqui, identificar os pontos fortes da nossa cooperação, mas também apontar os aspetos que ainda carecem de reforço. A segurança dos nossos povos está no centro desta agenda e queremos garantir que as populações se sintam livres e protegidas nas suas atividades quotidianas”, frisou Barraca, destacando a importância da estabilidade para o progresso económico e social de ambos os países.
O encontro decorre num contexto regional marcado por várias ameaças à segurança, incluindo movimentos de grupos extremistas em algumas regiões da África Austral e o aumento da circulação informal de pessoas e bens ao longo das fronteiras.
Apesar de Barraca ter evitado comentar diretamente sobre a presença de células terroristas no sul de Malawi ou em zonas próximas de Moçambique, reconheceu que a livre circulação de cidadãos deve ser garantida em ambiente de segurança reforçada e de respeito mútuo entre os países.
A Comissão Permanente Conjunta de Defesa e Segurança entre Moçambique e Malawi, estabelecida há vários anos, tem servido de plataforma estratégica para a partilha de informações de inteligência, coordenação de operações conjuntas e harmonização de estratégias de prevenção e resposta a situações de risco.
A presente sessão reforça este espírito de cooperação, apostando na consolidação da paz e na estabilidade das zonas fronteiriças, onde frequentemente ocorrem desafios relacionados com imigração ilegal, tráfico de drogas, contrabando e outras formas de criminalidade transnacional.
Ainda segundo Barraca, um dos pontos essenciais do debate passa por alinhar os compromissos assumidos com a realidade vivida nas localidades fronteiriças. “Não basta assinarmos protocolos; é necessário que esses acordos tenham tradução prática no terreno. A vigilância mútua, a troca de informações e a intervenção rápida em situações de emergência são pilares que precisam de funcionar de forma fluida e eficaz”, apontou.
Num apelo ao reforço da confiança entre os dois Estados, o representante moçambicano frisou que a paz e a segurança não podem ser vistas como responsabilidades isoladas, mas como construções coletivas que exigem empenho e visão estratégica comum.
A comissão espera, desta vez, sair com soluções inovadoras que contemplem não só as forças de defesa e segurança, mas também outras instituições civis ligadas à gestão de fronteiras e à mobilidade regional.
Para além dos temas de segurança tradicional, as delegações abordam igualmente a necessidade de reforçar a cooperação técnica e institucional no que diz respeito à formação de quadros, troca de experiências e organização de exercícios conjuntos, com vista à melhoria da prontidão operacional face a ameaças emergentes.
A experiência vivida nos últimos anos com fenómenos como o terrorismo na província de Cabo Delgado, embora centrado mais a norte de Moçambique, contribuiu para alertar os países da região sobre a urgência de reforçar as suas defesas, tanto internas como partilhadas.
O encontro, que deverá culminar com a assinatura de um memorando de entendimento ou declaração conjunta, reafirma o compromisso dos dois países em transformar a região num espaço de segurança, cooperação e desenvolvimento sustentável. Mesmo sem declarações conclusivas sobre temas sensíveis como o terrorismo, o tráfico humano ou o crime organizado, os intervenientes asseguram que as discussões são abrangentes e centradas nos reais interesses dos povos moçambicano e malawiano.
A décima sessão da Comissão Permanente Conjunta de Defesa e Segurança entre Moçambique e Malawi representa, assim, mais do que um momento de diplomacia técnica; configura-se como um passo firme na construção de uma agenda comum para a paz, estabilidade e desenvolvimento dos dois países, numa região que, apesar dos desafios, continua determinada a defender os seus valores de convivência, soberania e progresso partilhado.