Apesar de terem ocorrido no ano passado e se prolongado até aos primeiros meses de 2025, as manifestações pós-eleitorais em Moçambique continuam a deixar marcas profundas no quotidiano dos cidadãos. Os protestos, motivados pela contestação dos resultados das últimas eleições gerais, tiveram repercussões em diversas regiões do país, com episódios de violência e destruição de infraestruturas públicas.
No bairro de Inhagoia A, na cidade de Maputo, os efeitos ainda são visíveis e sentidos pela população. Durante o auge dos protestos, o posto policial local foi completamente incendiado por grupos de manifestantes, deixando a comunidade desprotegida. A Secretaria do Bairro também foi alvo de destruição e continua inoperacional até hoje, meses após os acontecimentos.
“Desde que queimaram o posto, ficámos entregues à nossa sorte. Os roubos começaram a aumentar e, com o frio que se faz sentir no inverno, sair à rua depois das 20 horas virou um verdadeiro risco”, afirmou um residente, visivelmente preocupado com a falta de segurança.
Relatos de furtos, assaltos e pequenos crimes tornaram-se frequentes desde a destruição das forças locais de manutenção da ordem. Muitos moradores afirmam que a insegurança agravou-se significativamente, e o clima de medo instalou-se, principalmente durante o período noturno.
Apesar do fim oficial das manifestações, a ausência de ações concretas para reconstruir os serviços públicos danificados ou reforçar a presença policial tem prolongado o sofrimento de comunidades como a de Inhagoia A. Organizações da sociedade civil e líderes comunitários continuam a pedir uma resposta mais efetiva das autoridades, exigindo diálogo, reconstrução e medidas urgentes para devolver a segurança e a confiança aos cidadãos.
Enquanto isso, as cicatrizes dos protestos continuam abertas — não apenas nas estruturas físicas, mas na vida cotidiana de milhares de moçambicanos que ainda vivem com o medo e a incerteza como companhias constantes.