O porto comercial de Maputo registrou recentemente uma queda na ordem de 14% do volume de carga diversa no primeiro semestre deste ano. Os números revelam como fatores externos continuam a desafiar a estabilidade operacional da infraestrutura.
Entre janeiro e junho, o terminal movimentou cerca de 14 milhões de toneladas, contra 15,3 milhões no mesmo período de 2024. A redução equivale a toda a carga que o porto processa em cerca de três semanas.
Analistas apontam que a instabilidade política doméstica constitui o factor que contribuiu para a sua que queda. As tensões pós-eleitorais de outubro de 2024 criaram incertezas logísticas que se prolongaram por meses, afetando especialmente operações sensíveis ao tempo.
“Os protestos interromperam rotas críticas de transporte e desencadearam custos adicionais com segurança”, explica um operador logístico que prefere manter o anonimato. Muitos exportadores optaram por atrasar embarques até a normalização do cenário.
Paralelamente, a crise energética na África do Sul – principal parceiro comercial – atingiu em cheio as exportações de ferrocromo. Setor que representa cerca de 18% do movimento total do porto viu sua produção encolher drasticamente.
“Tivemos meses com até 40% menos cargas de ferrocromo”, revela fonte interna da administração portuária. A dependência desta commodity mostrou a vulnerabilidade da estratégia de negócios.
O impacto foi sentido em toda a cadeia: caminhoneiros, armazenadores e até fornecedores de serviços portuários relataram redução média de 25% em suas atividades no período.
Entretanto, o mês de Maio trouxe os primeiros sinais de recuperação. Dados internos mostram que os volumes semanais começaram a superar gradualmente os patamares de 2024, ainda que de forma desigual entre diferentes tipos de carga.
“Estamos vendo um retorno mais rápido dos minérios do que das cargas gerais”, comenta Osório Lucas, diretor executivo da MPDC. A retomada das exportações sul-africanas explica parte deste movimento.
Especialistas alertam, porém, que a recuperação completa exigirá mais do que a normalização dos fluxos tradicionais. “O porto precisa diversificar sua base de clientes e reduzir a dependência de poucos produtos”, analisa um consultor marítimo.
Investimentos em curso para ampliar a capacidade de armazenagem de grãos e combustíveis visam exatamente mitigar estes riscos. Dois novos silos com capacidade para 100 mil toneladas devem entrar em operação ainda este ano.
Outro desafio é reconquistar a confiança dos operadores logísticos internacionais. “Alguns clientes migraram temporariamente para outros portos africanos durante a crise e precisam de motivos para voltar”, reconhece um executivo do consórcio gestor.
A médio prazo, o terminal aposta na conclusão das obras de aprofundamento do canal de acesso, que permitirão a atracação de navios maiores. O projeto, com conclusão prevista para 2026, pode ser um divisor de águas.
Enquanto isso, o segundo semestre será crucial para avaliar se a queda foi um evento pontual ou sinal de vulnerabilidades mais profundas. Todos os olhos estão voltados para os números de julho a dezembro, que definirão o tom para 2026.