A instabilidade financeira volta a assombrar o Moçambola, com o Baía de Pemba a acumular dois meses de salários em atraso (Maio e Junho), sinal de um problema estrutural que compromete a integridade do futebol profissional em Moçambique.
Longe de ser um caso isolado, o Baía de Pemba tem sido reincidente nesta prática, com um historial de incumprimento salarial desde que começou a competir na principal prova futebolística nacional, afectando não só o desempenho desportivo como a dignidade laboral dos seus jogadores e funcionários.
Na temporada passada, os “baianos” e o Textáfrica chegaram mesmo a perder temporariamente a licença de participação por decisão da Federação Moçambicana de Futebol (FMF), devido a incumprimentos financeiros reiterados, embora tenham sido autorizados a concluir o campeonato.
Neste ano, o Baía voltou ao Moçambola por mérito desportivo, enquanto o Textáfrica, último classificado em 2024, foi repescado na sequência da desistência do Brera Tchumene FC, um cenário que volta a revelar a vulnerabilidade do sistema de licenciamento desportivo nacional.
Para além do Baía, o Textáfrica e o Desportivo da Matola — actual “lanterna vermelha” da competição — também enfrentam dívidas salariais acumuladas. Ambos os clubes admitiram publicamente os atrasos e asseguram estar a delinear estratégias para honrar os compromissos com os atletas.
Contudo, não foram estabelecidos prazos concretos para a regularização dos salários, deixando os profissionais numa situação de incerteza, com impactos directos na motivação, rendimento e segurança socioeconómica dos envolvidos.
A sucessão de crises salariais revela uma fragilidade estrutural no modelo de financiamento e gestão dos clubes moçambicanos, muitos dos quais operam sem garantias mínimas de sustentabilidade, mas continuam autorizados a competir ao mais alto nível.
Vozes do sector desportivo — incluindo analistas, ex-atletas e dirigentes — defendem a introdução de mecanismos mais rigorosos de supervisão financeira, exigindo à FMF uma política de licenciamento mais criteriosa e transparente.
Enquanto persistirem modelos de gestão pouco sustentáveis e permissivos, a credibilidade do Moçambola continuará ameaçada, prejudicando a evolução do futebol nacional e desvalorizando os profissionais que o sustentam em campo.