A celebração do 80.º aniversário da derrota do Japão, em Pequim, transformou-se mais do que numa cerimónia histórica: tornou-se num palco de afirmação política e militar da China, da Rússia e da Coreia do Norte.
A presença conjunta de Xi Jinping, Vladimir Putin e Kim Jong-un deu à parada militar um peso diplomático que ultrapassou em muito o simbolismo da data.
Com 12 mil soldados, mais de 100 aeronaves e centenas de blindados, Pequim quis mostrar ao mundo o alcance da sua capacidade militar. O Presidente Xi Jinping usou o momento para lançar uma mensagem global, advertindo que a humanidade está diante da escolha entre “paz ou guerra, diálogo ou confronto”.
Ao lado de Putin e Kim, Xi destacou que o povo chinês “está firmemente do lado certo da história”. A imagem dos três líderes no mesmo palanque rapidamente correu o mundo e foi interpretada como uma clara afirmação de bloco alternativo às potências ocidentais.
Em Bruxelas, a Alta-representante da União Europeia para a Política Externa, Kaja Kallas, não deixou dúvidas quanto ao significado do encontro. Para a responsável europeia, não se tratou apenas de um gesto antiocidental, mas de “um desafio direto ao sistema internacional baseado em regras”.
Kallas recordou que a guerra da Rússia na Ucrânia “está a ser sustentada pelo apoio chinês” e alertou que a Europa precisa de se preparar para enfrentar esta nova realidade estratégica.
Também nos Estados Unidos houve reações imediatas. Donald Trump criticou, nas redes sociais, a ausência de referência ao papel dos soldados americanos na Segunda Guerra Mundial e sugeriu que os três presidentes poderiam estar a “conspirar contra os EUA”.
Vladimir Putin, porém, optou por responder com ironia. “O Presidente norte-americano tem sentido de humor”, afirmou, sublinhando que as conversações em Pequim contaram com apoio de diversos países, todos esperançosos de que as negociações em Anchorage possam contribuir para pôr fim ao conflito na Ucrânia.
Kim Jong-un aproveitou o palco de Pequim para reforçar o compromisso de Pyongyang com Moscovo, lembrando o envio de tropas para a região russa de Kursk. Putin, por sua vez, elogiou a “amizade fiável e duradoura” entre Rússia e Coreia do Norte.
Mais do que uma parada, o evento consolidou a imagem de um eixo emergente no panorama internacional, em que Pequim surge como anfitriã e pivot estratégico, Moscovo como potência em guerra e Pyongyang como aliado disposto a reforçar o braço militar.
A ausência de líderes ocidentais de relevo, contrastando com a forte presença de aliados asiáticos e euroasiáticos, deu à cerimónia um tom de contraponto geopolítico. Pequim quis mostrar que não está isolada e que conta com parceiros dispostos a desafiar a ordem internacional vigente.







