Morreu, em Portugal, vítima de doença, António Oliveira, mais conhecido por Xitonhana, último gestor da histórica empresa Transportes Oliveira. A notícia foi recebida com consternação, mas também com reconhecimento pela marca que deixou na economia e no imaginário popular do Sul de Moçambique.
Filho do fundador da transportadora, António Oliveira deu continuidade a um legado que se afirmou como símbolo de resiliência. A partir de Chibuto, sede da sua empresa, dinamizou a mobilidade de passageiros e cargas ligeiras numa altura em que viajar pelo país era sinónimo de risco e incerteza, sobretudo durante a guerra dos 16 anos.
Resistir à adversidade tornou-se uma das características da “Oliveira”, empresa que conseguiu manter operações mesmo nos “tempos tenebrosos” do conflito. Uma das marcas de António Oliveira foi a aposta na segurança e na disciplina operacional. Há relatos de que os fiscais da transportadora consultavam regularmente os passageiros sobre a condução dos motoristas, numa prática rara no sector.
Essa postura granjeou à “Oliveira” a reputação de confiança, numa altura em que acidentes eram frequentes no transporte rodoviário. Não surpreende, por isso, que Xitonhana tenha ficado associado à fiabilidade e ao respeito pelos clientes.
O impacto da empresa não se limitou às estradas. O nome “Oliveira” entrou também para a cultura popular. É referenciado em canções emblemáticas como Sapateiro, de Wazimbo, e Maengana, de António Marcos, testemunhando a presença da marca na vida quotidiana de várias gerações.
Para muitos, viajar nos autocarros da “Oliveira” era mais do que uma deslocação: era fazer parte de uma história colectiva de resistência e ligação entre comunidades.
O Presidente da República, Daniel Francisco Chapo, manifestou pesar pela morte de Xitonhana, recordando-o como “um marco na história dos transportes no país”.
Numa nota de condolências, o Chefe do Estado destacou que António Oliveira “dedicou todas as suas energias à dinamização do sector dos transportes”, sublinhando também iniciativas de interesse público como a reabilitação de estradas terciárias que permitiram a circulação mais segura dos seus autocarros.
“Xitonhana é, sem dúvidas, um exemplo de dedicação que os mais novos deveriam seguir”, afirmou o Presidente, lembrando a importância de não apenas chorar a sua partida, mas também celebrar o contributo que deu ao desenvolvimento de Moçambique.
Com a sua morte, encerra-se um capítulo importante da história dos transportes no país, mas permanece viva a memória de um homem que soube ligar destinos, resistir às dificuldades e inscrever o seu nome na cultura popular.







