A inclusão financeira em Moçambique continua a ser um dos maiores desafios para o desenvolvimento económico e social, particularmente entre a camada juvenil, que enfrenta sérios obstáculos no acesso a financiamento.
A preocupação foi partilhada nesta quinta-feira (11), em Maputo, pelo presidente do Conselho de Administração do M-Pesa Moçambique, Salimo Abdula, durante a conferência M-Pesa Fintalks, um espaço de debate sobre inovação, literacia financeira e soluções digitais.
Segundo Abdula, muitos jovens encontram dificuldades na transição de empregos formais para atividades de empreendedorismo, devido à ausência de capital de arranque, insuficiente literacia financeira e escassez de instrumentos digitais ajustados às suas necessidades.
“Estamos diante de uma geração talentosa e criativa, mas que esbarra em barreiras estruturais de acesso ao financiamento”, afirmou o dirigente, sublinhando que o problema da exclusão financeira tem impacto direto na estabilidade económica e social do país.
No evento, Abdula destacou que a inclusão financeira digital pode constituir um catalisador de transformação, permitindo a construção de negócios sustentáveis e a promoção da autonomia entre jovens e mulheres.
“Acreditamos que as soluções digitais não devem apenas facilitar transações, mas também abrir caminhos para a criação de riqueza e para uma transição geracional mais harmoniosa da nossa economia”, acrescentou.
Trata-se de uma perspetiva alinhada à estratégia do M-Pesa, que tem vindo a expandir a sua atuação além dos serviços de transferências e pagamentos móveis, apostando em mecanismos de microfinanciamento para pequenos empreendedores e famílias em situação de vulnerabilidade.
O diretor-geral do M-Pesa, Sérgio Gomes, reforçou a visão do presidente, defendendo que o sistema financeiro nacional precisa evoluir para garantir que os jovens tenham acesso a oportunidades robustas de crédito.
“Não se trata apenas de disponibilizar dinheiro, mas de criar condições justas e acessíveis, com taxas adequadas, para que os projetos concebidos pelos jovens possam crescer e resistir no tempo”, disse Gomes.
O gestor acrescentou que a juventude moçambicana carece de programas de financiamento que sejam flexíveis, inclusivos e adaptados à realidade local, em vez de modelos importados que muitas vezes não respondem aos desafios nacionais.
Durante a conferência, os oradores também realçaram a importância de se investir em literacia financeira, uma vez que muitos jovens não possuem conhecimentos básicos de gestão, o que compromete o sucesso das iniciativas de autoemprego.
Segundo Abdula, “não basta dar crédito. É fundamental capacitar, formar e acompanhar os jovens, para que cada metical investido se traduza em resultados concretos e duradouros”.
A conferência M-Pesa Fintalks contou ainda com a presença de representantes do setor privado, acadêmicos e organizações da sociedade civil, que convergiram na necessidade de unir esforços para reduzir a exclusão financeira.
De acordo com as conclusões preliminares do encontro, um dos grandes passos para consolidar a inclusão será a criação de plataformas digitais acessíveis, que liguem jovens empreendedores a investidores e instituições de microfinanças.
A iniciativa é vista como uma oportunidade de dinamizar o setor produtivo, gerar mais emprego e assegurar que a juventude desempenhe um papel central no processo de transformação socioeconómica de Moçambique.
No final, os organizadores sublinharam que a inclusão financeira digital não deve ser vista apenas como um produto bancário, mas como uma ferramenta de impacto social capaz de transformar vidas e reduzir desigualdades.