Em Moçambique, os idosos enfrentam desafios profundos relacionados com a falta de acesso a cuidados de saúde adequados, ausência de políticas de proteção social, isolamento e dificuldades económicas. Muitos vivem sem pensões, dependendo da solidariedade familiar em contextos onde a pobreza é generalizada. O envelhecimento ativo ainda é uma realidade distante para uma grande parcela desta população.
A inexistência de programas estruturados para apoiar os idosos significa que, em muitas comunidades, a terceira idade é marcada por vulnerabilidade e invisibilidade social. Essa realidade foi o pano de fundo da primeira celebração do Dia do Idoso no Bairro Polana Caniço “A”, organizada pela Associação para a Defesa e Desenvolvimento da Sociedade (ADDESSO).
O evento reuniu cerca de 45 idosos, maioritariamente mulheres e incluindo pessoas com deficiência, num ambiente de confraternização, reflexão e reconhecimento. A atividade aconteceu no Centro de Boas Acções, sob o lema “Celebrando a Valorização do Idoso e o Envelhecimento Activo”.
Para o presidente da ADDESSO, Deedar Guerra, a data vai além de uma comemoração simbólica. Trata-se de um momento para lembrar à sociedade que a dignidade dos idosos deve ser assegurada como um direito fundamental. “Celebrar este dia com dignidade é também um direito do idoso”, afirmou, acrescentando que esta é uma causa que exige compromisso coletivo.
Durante a sua intervenção, Guerra destacou que o Projeto Biblioteca Viva, desenvolvido pela ADDESSO, visa despertar a consciência social sobre os direitos dos idosos e o envelhecimento saudável, lembrando que estes cidadãos carregam a memória e identidade das comunidades.
“Os nossos idosos não são apenas beneficiários de programas sociais; são portadores de experiência e história. Devemos ouvi-los, respeitá-los e garantir que tenham condições para viver com dignidade”, reforçou o dirigente.
A celebração incluiu atividades como corte de bolo, almoço comunitário, partilha de histórias, dinâmicas de grupo, música, dança e entrega de capulanas, proporcionando aos participantes momentos de alegria e reconhecimento.
Um dos momentos mais emocionantes ocorreu quando um idoso, em nome do grupo, declarou: “Nenhum de nós sabia que havia um Dia do Idoso… Hoje sentimos que somos lembrados e valorizados”. Para Guerra, estas palavras traduzem a invisibilidade social a que os idosos têm estado sujeitos.
No seu discurso, o presidente da ADDESSO salientou que a valorização da terceira idade não pode ficar restrita a gestos simbólicos: “É necessário criar políticas públicas concretas, garantir acesso à saúde, segurança social e integração comunitária. Só assim poderemos afirmar que o envelhecimento ativo é uma realidade em Moçambique”.
O evento contou também com a presença de parceiros como a AIESEC e a Acção Social, que manifestaram apoio ao projeto, mas reconheceram que o Estado deve assumir um papel mais central no desenvolvimento de programas de apoio aos idosos.
Além de Maputo, a ADDESSO esteve presente na Província de Gaza, participando na celebração provincial liderada pela governadora Margarida Mapandzene, e repetindo o gesto simbólico de oferecer capulanas às mulheres idosas.
Para Guerra, este ato de entrega não é apenas simbólico, mas um apelo à sociedade: “Respeitar o idoso é respeitar a nossa história. Precisamos garantir que este respeito seja traduzido em ações permanentes e estruturadas, e não apenas em celebrações pontuais”.
A iniciativa no Bairro Polana Caniço “A” marcou, assim, um passo importante na valorização da terceira idade em Moçambique, lançando um alerta para que a sociedade e o Estado assumam responsabilidade perante este desafio crescente.