Especialistas em educação e desenvolvimento económico saudaram, recentemente, a meta anunciada pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) de reduzir a taxa de analfabetismo para 23% até 2029, considerando-a um passo positivo para a inclusão social e melhoria das condições de vida da população. Contudo, esses analistas alertam que o desafio vai além da alfabetização e que o país precisa urgentemente de reforçar o ensino técnico e profissional para responder ao problema estrutural do desemprego juvenil.
Segundo dados oficiais, uma parte significativa da juventude moçambicana permanece analfabeta ou sem competências técnicas, situação que limita o acesso a oportunidades de emprego e mantém elevadas taxas de desemprego. Para muitos jovens, mesmo quando existem vagas, a falta de qualificações torna impossível competir no mercado de trabalho.
Para analistas como José Nhancale, investigador em políticas educativas, “a alfabetização é apenas o primeiro passo. É necessário articular este esforço com a expansão do ensino técnico-profissional em vários níveis, formando jovens com competências concretas que possam responder às exigências do mercado”.
Nesse contexto, o anúncio feito pela Ministra da Educação e Cultura, Samaria Tovela, durante a abertura do I Conselho Coordenador do MEC — em que se comprometeu com a redução do analfabetismo e a implementação de um Plano de Ação para a Educação de Jovens e Adultos — foi considerado positivo, mas insuficiente. “É fundamental que este plano integre uma componente robusta de formação técnica e profissional”, acrescenta Nhancale.
A meta do MEC inclui iniciativas como aumentar a participação de adultos, com especial atenção às mulheres, desenvolver programas integrados de literacia e numeracia, expandir modalidades de educação formal e não formal, e adaptar currículos às novas dinâmicas tecnológicas. No entanto, os analistas sublinham que o ensino técnico deve ser prioritário para gerar empregos sustentáveis e reduzir a dependência da economia informal.
Maria João Chivale, especialista em desenvolvimento económico, reforça que “a aposta no ensino técnico e profissional é um investimento estratégico. Formar técnicos qualificados em várias áreas da construção civil à tecnologia e agroindústria pode transformar o perfil da força de trabalho e reduzir o desemprego juvenil estrutural”.
Os analistas apelam ao Governo que, além de reduzir o analfabetismo, desenvolva políticas de formação técnica articuladas com as necessidades do mercado e programas de incentivo ao empreendedorismo juvenil, criando um ambiente onde a juventude possa não só aprender, mas também aplicar as competências adquiridas.
Neste cenário, a concretização da meta do MEC poderá constituir um ponto de viragem no combate à pobreza e ao desemprego, desde que acompanhada por uma estratégia integrada de capacitação técnica e profissional para jovens em todo o país.
Para a comunidade académica e para especialistas em desenvolvimento, a questão é clara: reduzir o analfabetismo é urgente, mas só será plenamente eficaz se for acompanhado por uma aposta consistente em formação técnica, garantindo que a juventude não seja apenas alfabetizada, mas também qualificada para competir e prosperar no mercado de trabalho.







