Moçambique juntou-se a outros nove países africanos no impulso ao desenvolvimento das energias renováveis no continente, através da Parceria Acelerada para Energias Renováveis em África (APRA, na sigla em inglês), após a sua estreia no segundo Fórum de Investimento da APRA, realizado em Freetown, capital da Serra Leoa.
O encontro, de dois dias, foi coorganizado pela Agência Internacional de Energias Renováveis (IRENA) e pelo Governo da Serra Leoa, reunindo ministros, investidores, parceiros de desenvolvimento e especialistas do setor energético, com o objetivo de mobilizar financiamento e acelerar a transição energética e a industrialização verde do continente.
Os países membros da APRA são agora o Djibuti, Etiópia, Gana, Quénia, Moçambique, Namíbia, Ruanda, Serra Leoa, Uganda e Zimbabué. Os parceiros fundadores incluem a Dinamarca, Alemanha, Emirados Árabes Unidos e Estados Unidos da América, enquanto a IRENA e a UNOPS servem como Secretariado da iniciativa.
Durante a abertura oficial do evento, o Diretor-Geral da IRENA, Francesco La Camera, afirmou que as energias renováveis continuam a ser a fonte de energia mais acessível e sustentável para África, mas destacou que o acesso ao financiamento ainda é o principal obstáculo.
“As energias renováveis tornaram-se a forma mais económica de geração de eletricidade, mas a diferença entre o vasto potencial energético de África e a sua concretização ainda é enorme”, disse La Camera. “Precisamos agir com urgência e de forma colaborativa para eliminar as barreiras financeiras persistentes e garantir que o capital acessível chegue aos projetos viáveis.”
De acordo com a IRENA, África necessita de um investimento médio anual de 70 mil milhões de dólares em energias renováveis, mas em 2023 recebeu apenas 2,3% do financiamento global destinado a este setor. O fórum, por isso, tem como meta promover parcerias público-privadas e apoiar os países na implementação de projetos bancáveis de energia limpa.
Representando o Governo de Moçambique, o Secretário Permanente do Ministério dos Recursos Minerais e Energia, António Manda, afirmou que o fórum oferece uma plataforma oportuna para os países africanos colaborarem e desbloquearem investimentos em projetos energéticos viáveis.
“A matriz energética de Moçambique já é 84% renovável, embora tenhamos grandes reservas de carvão que apenas exportamos”, afirmou Manda. “Possuímos um potencial hidroelétrico de 18 mil megawatts e mais de 180 biliões de pés cúbicos de gás natural de classe mundial. O gás é a nossa fonte de transição, mas a visão de longo prazo é expandir a energia solar, eólica e hídrica.”
Manda destacou ainda que Moçambique tem vários projetos de energia renovável prontos para investimento, incluindo 120 megawatts de capacidade solar e eólica com estudos de viabilidade concluídos. Considerou a estrutura africana da APRA uma oportunidade valiosa para mobilizar financiamento e promover cooperação técnica.
“Esta é a nossa primeira participação no fórum, e acreditamos que o modelo África-para-África da APRA é essencial”, afirmou. “Compreendemos melhor os desafios e oportunidades uns dos outros, o que facilita a mobilização de financiamento para os nossos projetos.”
Atualmente, Moçambique exporta eletricidade limpa para a África do Sul, Zimbabué e outros países da África Austral, posicionando-se como um polo regional de energia renovável. Entre os seus principais projetos está a Central Hidroelétrica de Mpanda Nkuwa, com capacidade de 1.500 megawatts, localizada na província de Tete, cuja construção deverá iniciar-se no próximo ano.
“Mpanda Nkuwa é um projeto regional apoiado por parceiros como a Sumitomo, do Japão, e a TotalEnergies”, referiu Manda. “Estamos na fase de fecho financeiro e esperamos iniciar as obras no próximo ano. Cahora Bassa Norte será o próximo, sendo ambos projetos fundamentais para estabilizar o fornecimento na Bacia do Zambeze.”
O presidente do Grupo de Coordenação de Governança Energética e da Iniciativa Presidencial sobre Alterações Climáticas, Energias Renováveis e Segurança Alimentar (PI-CREF), Dr. Kandeh Yumkella, apelou igualmente aos países africanos para assumirem o protagonismo na transição energética.
“África deve assumir a liderança da sua própria transição energética”, afirmou. “Parcerias como a APRA são cruciais porque combinam cooperação regional com conhecimento global, direcionando os investimentos para onde são mais necessários energia limpa e fiável para as comunidades.”
A adesão de Moçambique à APRA representa um marco importante e reflete o compromisso do país em expandir a infraestrutura de energia renovável, alinhando-se aos esforços continentais e globais de combate às mudanças climáticas.
“Moçambique aderiu à APRA porque a vemos como uma plataforma de ação, e não apenas de diálogo”, sublinhou Manda. “Trata-se de acelerar os projetos prontos a fornecer energia limpa e desenvolvimento.”
À medida que África procura reduzir o défice de investimento e aproveitar os seus vastos recursos naturais, o envolvimento de Moçambique na APRA posiciona o país para atrair financiamento, ampliar a produção de energia limpa e reforçar o seu papel como líder em energia sustentável na África Austral.








