A Secretária Executiva do Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional (SETSAN), Judith Mussácula, lançou esta segunda-feira, 10 de novembro, em Matutuine, um apelo contundente à responsabilidade técnica e ética na análise dos dados sobre a situação alimentar das famílias moçambicanas.
O pedido foi feito durante o Seminário de Análise de Dados do Protocolo de Classificação Global de Insegurança Alimentar Aguda, num discurso que não deixou margem para complacências.
Com uma postura assertiva, Mussácula alertou que o país ainda enfrenta níveis preocupantes de desnutrição crónica, que afectam cerca de 37% das crianças moçambicanas menores de cinco anos.
“Trata-se de uma estatística que não pode ser normalizada nem ignorada”, advertiu, frisando que cada número representa uma criança com o seu potencial comprometido por falta de nutrição adequada.
A dirigente explicou que o seminário visa mais do que a leitura de tabelas e gráficos. “Estamos aqui para interpretar a realidade por detrás dos dados, compreender as causas e agir com base em evidências concretas”, disse, enfatizando que o rigor técnico é a base de qualquer política pública credível.
As avaliações pós-colheita, sublinhou, são determinantes para medir a disponibilidade e o acesso aos alimentos nas comunidades, mas também para identificar vulnerabilidades estruturais que podem agravar-se até à próxima colheita. “O nosso trabalho deve antecipar crises, não apenas reagir a elas”, declarou.
Mussácula destacou ainda que os resultados destas análises são fundamentais para a planificação de acções concretas no quadro da Política e Estratégia de Segurança Alimentar e Nutricional (PESAN 2024–2030), recentemente aprovada. Para a responsável, “a qualidade da informação define a qualidade das decisões e, consequentemente, a eficácia das respostas no terreno”.
“Os dados que recolhemos e analisamos têm um valor humano. Não são apenas números em relatórios; são rostos, famílias e comunidades que dependem da precisão do nosso trabalho para sobreviver e prosperar”, afirmou, num discurso que arrancou fortes aplausos da plateia.
Durante o encontro, o Governo reafirmou o seu compromisso com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e com a Iniciativa Fome Zero, iniciativas internacionais que orientam os países no combate à pobreza e à insegurança alimentar até 2030.
O seminário, a decorrer na Ponta de Ouro, reúne técnicos do SETSAN, representantes distritais e parceiros de cooperação num exercício que visa reforçar capacidades e harmonizar metodologias de recolha e interpretação de dados sobre a segurança alimentar no país.
Os participantes discutem igualmente a eficácia das ferramentas internacionais de classificação da insegurança alimentar, procurando assegurar maior consistência e transparência nos resultados obtidos, factores que reforçam a credibilidade das decisões políticas.
No encerramento da sessão de abertura, Judith Mussácula deixou uma mensagem clara: “A segurança alimentar é um dever colectivo. Requer coordenação entre o Estado, o setor privado e os parceiros de desenvolvimento, mas, acima de tudo, exige compromisso e integridade de quem analisa e decide.” Uma advertência firme, num momento em que o país enfrenta o duplo desafio de garantir a segurança alimentar e consolidar políticas públicas baseadas em evidência científica.







