A antiga Refinaria de Petróleo da Matola, explorada pela Sonarep, constitui um dos marcos mais relevantes da história industrial de Moçambique, tanto pelo impacto económico que teve no período colonial como pelo contraste que hoje evidencia num país totalmente dependente da importação de derivados petrolíferos.
A decisão para a sua instalação foi tomada ainda nos anos 50, após estudos técnicos e definição das condições de concessão do alvará, culminando com o parecer favorável do Conselho de Governo da então província.
Em Outubro de 1958, o Ministro do Ultramar aprovou formalmente as condições para a implantação da infra-estrutura, abrindo caminho para um dos maiores investimentos industriais da época.
A refinaria foi oficialmente inaugurada a 28 de Maio de 1961, dentro do prazo previsto, passando a ser a primeira unidade de refinação de petróleo em território moçambicano. À data da inauguração, a capacidade instalada era de 13 mil barris por dia, o que correspondia a uma produção anual superior a 600 mil toneladas para determinados tipos de crude.
O projecto foi concebido com margem para expansão, prevendo-se a elevação da capacidade até um milhão de toneladas por ano, numa altura em que o consumo interno rondava apenas 130 mil toneladas anuais. A navegação internacional que se abastecia nos portos nacionais absorvia uma quantidade semelhante, tornando a refinaria estratégica para o abastecimento regional.
Graças à sua localização geográfica e à infraestrutura logística disponível, a unidade passou a abastecer não apenas o mercado interno, mas também países vizinhos e outros territórios sob administração portuguesa, assegurando condições económicas competitivas e estabilidade no fornecimento de combustíveis.
A operação da refinaria impulsionou o tecido económico local e nacional, garantindo emprego directo a cerca de 270 famílias logo na fase inicial, para além de gerar milhares de postos de trabalho indirectos ligados ao transporte, comércio e distribuição de produtos petrolíferos.
Os níveis de produção superaram rapidamente as exigências mínimas impostas pelo Governo da época, tendo a capacidade anual ultrapassado, logo no primeiro ano, em mais de 400 mil toneladas o limite definido, o que levou ao reforço contínuo da mão-de-obra e da cadeia de valor associada.
Mesmo durante a crise petrolífera mundial de 1973, a refinaria manteve a sua relevância económica, mitigando os efeitos da escassez internacional. A diferença entre importar derivados refinados e petróleo bruto revelou-se crucial para a economia provincial, apesar do racionamento severo que afectava vários países.
Após a Independência, o novo Governo decidiu transferir a posse da refinaria para o Estado, assumindo-a como um activo estratégico das massas populares. Foram envidados esforços para formar quadros nacionais, incluindo o envio de jovens moçambicanos para formação especializada no estrangeiro.
Contudo, a unidade não resistiu ao período de transição e acabou por se degradar até se tornar inoperante, perdendo-se uma infra-estrutura que poderia ter sustentado a soberania energética nacional por várias décadas.
Actualmente, Moçambique não dispõe de capacidade de refinação de petróleo e importa todos os derivados que consome, uma realidade que reforça o debate sobre as oportunidades perdidas, a necessidade de investimento industrial e a urgência de uma estratégia energética que reduza a dependência externa do país.







