O conflito entre o Irão e Israel conheceu um novo e preocupante capítulo esta segunda-feira, quando os Guardas da Revolução Islâmica do Irão reivindicaram, através da televisão estatal, a autoria de um ataque directo a um suposto centro de operações da Mossad em Telavive.
A acção militar, justificada como retaliação pela ofensiva israelita em curso desde 13 de Junho, marca o quinto dia de uma escalada que poderá redesenhar o equilíbrio de forças no Médio Oriente e, simultaneamente, ter implicações económicas globais, incluindo para países africanos com forte dependência energética e comercial, como Moçambique.
Segundo a declaração oficial, os Guardiães da Revolução afirmam ter “atingido o centro de informação militar do regime sionista chamado Aman e o centro de planeamento de operações terroristas do regime sionista, Mossad, em Telavive”.
A mesma fonte adiantou ainda que o edifício estaria “em chamas” após o ataque, o que foi parcialmente confirmado por imagens divulgadas em meios não oficiais e monitoradas por agências internacionais de notícias.
Fontes israelitas, por sua vez, mantêm silêncio quanto à veracidade do impacto do ataque, mas reforçaram o nível de alerta em várias cidades do país.
Esta agressão insere-se num contexto de tensão crescente na região, alimentado pelas acusações israelitas de que o Irão continua a avançar com o seu programa nuclear e o fabrico de mísseis balísticos, considerados uma ameaça existencial à segurança do Estado hebraico.
Desde o início da ofensiva israelita, Teerão tem respondido com ataques de mísseis e drones contra alvos em território israelita, num cenário de guerra de desgaste que pode descambar para um conflito regional aberto.
Para além das preocupações militares, a nova vaga de confrontos no Médio Oriente está a provocar fortes repercussões nos mercados internacionais de energia.
O estreitamento da segurança no Estreito de Ormuz — por onde transita cerca de um quinto do petróleo mundial — elevou os preços do crude nas principais praças financeiras, com o barril de Brent a ultrapassar os 94 dólares nos últimos dias.
O aumento do preço do petróleo impacta diretamente a economia de Moçambique, que importa a maior parte dos seus combustíveis fósseis e depende de tarifas estáveis para sustentar o sector dos transportes, a produção agrícola e a cadeia de fornecimento alimentar.
O economista moçambicano Olívio Nhampule considera que “qualquer perturbação grave no Médio Oriente repercute-se de imediato no custo da energia a nível global e afecta a estrutura de preços internos nos países periféricos como Moçambique, que possuem fraca capacidade de absorção de choques externos”.
Acrescenta ainda que, para além do petróleo, os mercados de capitais e o investimento directo estrangeiro tendem a retrair-se face a conflitos prolongados, o que pode ter implicações na implementação de megaprojectos em solo moçambicano, como o gás natural liquefeito em Cabo Delgado.
Embora fisicamente distante da zona de combate, Moçambique não está imune às consequências do conflito.
Analistas defendem que o agravamento das hostilidades poderá reduzir o apetite de investidores para regiões consideradas de alto risco ou instabilidade, como o norte de Moçambique, palco de ataques terroristas nos últimos anos.
Empresas envolvidas nos projectos de gás natural liderados pela TotalEnergies, ENI e ExxonMobil podem rever cronogramas, reavaliar níveis de segurança e ajustar planos de investimento, o que comprometeria previsões de crescimento económico e receitas fiscais futuras.
Adicionalmente, a tensão entre Teerão e Telavive resvala para as alianças regionais e o alinhamento político dos grandes blocos económicos. Enquanto o Irão conta com o apoio tácito de países como a Rússia e a China — seus aliados no grupo BRICS —, Israel mantém uma aliança sólida com os Estados Unidos e países da NATO.
Moçambique, membro do BRICS+, poderá vir a ser pressionado diplomaticamente a tomar posições em fóruns internacionais, o que exigirá uma diplomacia equilibrada e pragmática para não comprometer os seus interesses comerciais e estratégicos.
Num contexto em que os conflitos extravasam fronteiras, as vozes africanas têm procurado um espaço de mediação e apelo à moderação.
A União Africana, através do seu Conselho de Paz e Segurança, manifestou preocupação com a escalada militar no Médio Oriente e apelou a uma “cessação imediata das hostilidades”, salientando o impacto que os conflitos armados têm sobre a segurança alimentar, o comércio e os fluxos migratórios no continente.
Vários países africanos, incluindo Moçambique, são beneficiários de ajudas humanitárias e parcerias para o desenvolvimento que podem ser reorientadas para apoiar cenários de guerra ou crise humanitária noutras regiões.
Para o professor universitário e analista de Relações Internacionais, Sérgio Machatine, “Moçambique deve apostar numa diplomacia económica inteligente, que privilegie relações de interesse mútuo com todos os blocos, sem se envolver directamente em conflitos de potência”. Sublinha ainda que a diversificação da matriz energética nacional e o fortalecimento da produção agrícola são caminhos para mitigar os choques externos e reforçar a resiliência interna perante cenários de instabilidade internacional.
A ofensiva do Irão contra supostos alvos da Mossad em Telavive marca um ponto crítico na escalada entre os dois países, num cenário que continua a alimentar receios de uma guerra aberta no Médio Oriente.
Para Moçambique, os efeitos não se medem apenas em termos de diplomacia, mas sobretudo em impactos económicos concretos: subida dos preços dos combustíveis, retração do investimento externo e novos riscos para a estabilidade de projectos estratégicos no setor energético.
A conjuntura internacional obriga os países como Moçambique a reforçar a sua inteligência estratégica, a sua capacidade de previsão e a sua autonomia de decisão, sob pena de se verem reféns das tempestades alheias.