Marracuene reafirma compromisso com os direitos das pessoas com albinismo
O Governo do Distrito de Marracuene reafirmou, nesta quinta-feira, 19 de Junho, o seu compromisso com a defesa dos direitos das pessoas com albinismo, ao acolher uma palestra alusiva ao Dia Internacional da Consciencialização sobre a Pessoa com Albinismo, assinalado a 13 de Junho.
A acção visou sensibilizar as comunidades para a necessidade de garantir a saúde, segurança e dignidade deste grupo social historicamente vulnerável.
Redação
Num gesto de profundo simbolismo e responsabilidade social, o Governo do Distrito de Marracuene acolheu uma palestra inserida nas celebrações do Dia Internacional da Consciencialização sobre a Pessoa com Albinismo, cuja efeméride é comemorada a 13 de Junho.
O evento teve lugar nesta quinta-feira (19) de Junho e decorreu sob o lema “Reivindicar os nossos Direitos: Proteger a nossa Pele, Preservar as nossas Vidas”, reforçando o apelo à protecção dos direitos fundamentais das pessoas com albinismo, particularmente o direito à saúde e à vida.
A iniciativa da Direcção Nacional de Direitos Humanos e Cidadania, contou com o envolvimento activo de várias organizações da sociedade civil, entre as quais ALBIMOZ, a Amor à Vida, a Associação da Mercês, a FAMOD e outras entidades que, há anos, trabalham no terreno para promover a inclusão, a dignidade e a protecção das pessoas com albinismo em Moçambique.
A sessão de abertura foi dirigida pela Secretária Permanente do Distrito de Marracuene, Nércia Paula Mambo Sevene, que falou em nome da administradora do distrito, Teresa Mauaie.
No seu discurso, Sevene expressou um posicionamento claro em relação à necessidade de fortalecer os mecanismos de protecção deste grupo vulnerável, apelando aos presentes — especialmente aos líderes comunitários — para que se tornem agentes activos na vigilância e promoção dos direitos humanos das pessoas com albinismo.
“O nosso compromisso não se esgota num evento comemorativo. A luta pelos direitos das pessoas com albinismo é permanente. Os líderes locais devem estar atentos, denunciar qualquer acto discriminatório e trabalhar para que nenhuma criança, jovem ou adulto com albinismo se sinta à margem da comunidade”, disse, com tom firme e mobilizador.
Durante a palestra, foram partilhados testemunhos marcantes de vida de pessoas com albinismo.
As narrativas, emocionantes e cativantes, retrataram o peso do preconceito social, as dificuldades no acesso à saúde, a discriminação nas escolas, a exclusão laboral e, acima de tudo, os riscos associados ao cancro da pele, uma condição com elevadas taxas de mortalidade entre pessoas com albinismo no país, sobretudo devido à falta de informação e de protecção adequada contra a exposição solar.
“Viver com albinismo em Moçambique continua a ser um desafio diário. As pessoas olham para nós como diferentes, muitas vezes com medo ou superstição. Mas nós temos sonhos, temos talento, temos dignidade. Só precisamos de respeito e de oportunidades iguais”, afirmou uma jovem participante da palestra, cujas palavras emocionaram os presentes e reforçaram a urgência de uma acção mais concreta do Estado e da sociedade.
O evento teve ainda um forte conteúdo educativo, com especialistas a esclarecerem os riscos associados ao albinismo, particularmente o cancro de pele, que é prevenível com medidas básicas como o uso regular de protector solar, chapéus de aba larga e roupas que cubram o corpo.
No entanto, conforme denunciaram representantes das organizações presentes, esses materiais continuam a ser inacessíveis para a maioria das famílias com membros com albinismo, o que coloca milhares de vidas em risco todos os anos.
Num apelo directo às autoridades governamentais, os activistas presentes exigiram maior investimento na saúde preventiva, distribuição gratuita de protectores solares nos centros de saúde, campanhas contínuas de sensibilização nas escolas e comunidades, bem como políticas públicas consistentes que promovam o empoderamento económico das pessoas com albinismo. “Não podemos falar de inclusão sem garantir condições mínimas de sobrevivência digna”, alertou um dos oradores.
Para além do conteúdo informativo, o encontro serviu como um espaço de partilha e acolhimento, onde os participantes puderam trocar experiências, fortalecer redes de apoio e reforçar o sentimento de pertença a uma comunidade mais ampla de luta pelos direitos humanos. O ambiente foi marcado por momentos de emoção, esperança e mobilização colectiva.
Ao acolher esta actividade, o Governo do Distrito de Marracuene, sinalizou de forma inequívoca a sua disponibilidade para ser parceiro activo na construção de um território mais inclusivo, onde a diferença não seja sinónimo de exclusão, mas de diversidade e riqueza social.
A presença de representantes das organizações da sociedade civil ao lado de autoridades locais conferiu ao evento uma dimensão de compromisso institucional que muitos esperam ver traduzido em acções concretas a curto e médio prazo.
Numa altura em que os apelos internacionais pela protecção das pessoas com albinismo se tornam cada vez mais urgentes, sobretudo em países africanos onde ainda persistem mitos e práticas discriminatórias, a acção do distrito de Marracuene pode ser vista como um exemplo positivo de como os governos locais podem liderar processos de transformação social a partir do nível comunitário.
Mais do que uma cerimónia simbólica, a palestra organizada em Marracuene representou uma tomada de posição: a de que o Estado moçambicano, através das suas estruturas locais, está atento às vozes daqueles que durante muito tempo foram silenciados. É um passo importante, ainda que inicial, no longo caminho rumo à igualdade de direitos e à valorização plena de todas as vidas, independentemente da cor da pele, do género, da condição física ou de qualquer outra diferença.
No final da cerimónia, ficou o apelo colectivo para que o 13 de Junho não seja apenas uma data no calendário, mas um ponto de partida para políticas estruturantes e acções concretas que devolvam dignidade, segurança e esperança às pessoas com albinismo em todo o território nacional.