”Multimilionário desafia sistema político dos EUA com nova formação, após divergências com o antigo aliado Donald Trump”
Elon Musk, o controverso magnata sul-africano naturalizado norte-americano e fundador da Tesla e SpaceX, anunciou oficialmente a criação de uma nova formação política nos Estados Unidos da América: o “Partido da América”.
A decisão surge após o rompimento público com o ex-presidente Donald Trump e em meio à aprovação de uma polémica lei orçamental, duramente criticada por Musk, que acusa o projeto de agravar ainda mais a dívida pública norte-americana.
Figura central na paisagem tecnológica e empresarial mundial, Musk foi durante algum tempo um aliado informal de Trump, com quem partilhou posições em temas como liberdade de expressão, crítica à “cultura do cancelamento” e nacionalismo económico.
No entanto, as divergências tornaram-se públicas nos últimos meses, tendo culminado na rutura política e no anúncio da nova força partidária.
Apesar de ser natural da África do Sul e, por isso, legalmente impedido de se candidatar à presidência dos Estados Unidos — já que a Constituição exige que o Presidente seja cidadão nato —, Elon Musk garante que pretende influenciar a política norte-americana a partir da base, “desafiando os partidos tradicionais e oferecendo uma alternativa real aos americanos comuns”.
A criação do “Partido da América” foi precedida por uma sondagem informal lançada por Musk na sua rede social X (antigo Twitter), precisamente no dia 4 de Julho, feriado nacional norte-americano, e data em que foi promulgada com grande alarde por Donald Trump a chamada “grande e linda lei”, um pacote orçamental aprovado com o apoio da maioria republicana no Congresso.
Musk não escondeu a sua irritação com o que considera ser “um presente envenenado ao contribuinte norte-americano” e criticou duramente a medida, classificando-a como “insustentável, populista e perigosa para a economia do país”.
A sondagem, que teve a participação de cerca de 1,2 milhões de utilizadores, resultou num apoio expressivo à proposta do novo partido. Cerca de 65% dos votantes responderam “sim” à pergunta sobre a necessidade de uma nova formação política.
Musk reagiu de imediato: “Numa proporção de dois para um, quer um novo partido político, e tê-lo-á!”, escreveu, reafirmando a intenção de dar voz aos cidadãos que se dizem desencantados com o sistema bipartidário vigente.
Segundo analistas políticos, o movimento de Musk representa mais um abalo no já polarizado cenário político norte-americano. A fundação de um partido por uma figura com grande influência económica, tecnológica e mediática poderá mobilizar sobretudo eleitorado jovem, desiludido com o sistema tradicional e atraído por mensagens de inovação, liberdade económica e desregulação estatal.
A incógnita, no entanto, permanece sobre a real estruturação do novo partido, seus quadros dirigentes e se irá apresentar candidatos às próximas eleições legislativas ou presidenciais. Até ao momento, Musk limitou-se a afirmar que o partido “irá crescer de forma orgânica” e que irá “defender os valores fundamentais da liberdade, da inovação e da responsabilidade fiscal”.
O anúncio já começou a gerar reações no seio do Partido Republicano, com alguns congressistas a considerarem a iniciativa como uma ameaça à unidade da direita americana e outros a minimizar o impacto do gesto, apontando para o histórico de posições voláteis do empresário. Por sua vez, alguns setores da esquerda norte-americana encaram o movimento com desconfiança, acusando Musk de querer manipular o discurso da inclusão política para proteger interesses corporativos.
Apesar da controvérsia, Elon Musk segue como uma figura incontornável na paisagem pública dos Estados Unidos. O seu posicionamento político poderá vir a reconfigurar o tabuleiro partidário nos próximos anos — sobretudo se o “Partido da América” conseguir traduzir a popularidade digital em ação concreta nos círculos eleitorais.
Por ora, o multimilionário sul-africano-americano parece decidido a dar um passo além da tecnologia e dos mercados, entrando diretamente no campo da política institucional com uma proposta que, embora ainda embrionária, promete agitar o debate e, possivelmente, alterar os equilíbrios em Washington.