A Federação Moçambicana de Futebol (FMF) está a intensificar os seus esforços para atrair jogadores com raízes moçambicanas que atuam fora do país, numa estratégia assumida de fortalecimento técnico das selecções nacionais. A aposta passa por naturalizações e parcerias com jogadores da diáspora, numa abordagem semelhante à de federações internacionais que já colhem frutos desse modelo.
Feizal Sidat, presidente da FMF, anunciou nesta quinta-feira (24), em conferência de imprensa em Maputo, que há uma equipa de scouting dedicada a identificar atletas que possam vestir a camisola moçambicana, com base em laços familiares ou origem. “Estamos a trabalhar para naturalizar mais jogadores e dar mais opções ao selecionador”, garantiu o dirigente.
Entre os nomes já autorizados a representar Moçambique estão Bruno Wilson e Diogo Calila, ambos com passaportes moçambicanos recentemente emitidos. Os irmãos Rúben e Enrique Lameiras, que jogam no Al-Sailiya do Qatar e no Vitória SC sub-19 de Portugal, respetivamente, também já cumprem os requisitos legais para a chamada às selecções.
A decisão de atrair atletas nascidos ou formados no estrangeiro não é apenas estratégica — é também simbólica. Representa o esforço da FMF em reconstruir o orgulho nacional em torno das selecções e acompanhar as dinâmicas globais do futebol moderno. “Estamos a seguir o exemplo de muitas federações que valorizam os filhos da diáspora”, reforçou Sidat.
No entanto, nem todos os esforços têm tido sucesso. O caso de Khensane Machel, jovem talento que recentemente foi chamado à selecção sub-17 do Brasil, revelou os limites do projeto. Segundo Sidat, a FMF tentou assegurar a nacionalidade moçambicana do jogador, mas não houve retorno. “Estive pessoalmente no Brasil com ele e com a mãe. Prometeram enviar a documentação, mas até hoje não recebemos nada”, lamentou.
Khensane, descendente direto da linhagem Machel, representa mais do que um talento promissor — é também um símbolo de pertença e orgulho nacional. Mas, como destacou Sidat, “ele e o empresário preferiram seguir outro caminho. O futebol é assim. Vamos desejar-lhe sorte.”
O episódio relança o debate sobre o papel das selecções nacionais na afirmação da identidade, especialmente quando jogadores com múltiplas nacionalidades optam por outros países. Para a FMF, porém, o foco permanece na construção de uma base sólida com atletas comprometidos com a causa nacional, estejam eles dentro ou fora do território.
“Queremos uma selecção forte, sim, mas também representativa, que inspire os jovens e una o país. Vamos continuar a trabalhar com seriedade para identificar e valorizar os nossos talentos, estejam onde estiverem”, reiterou Sidat, sublinhando que novos nomes poderão ser anunciados brevemente.
Além da política de captação internacional, a FMF anunciou que continuará a investir na formação técnica, gestão desportiva e requalificação das infraestruturas nacionais, com o objetivo de melhorar o desempenho competitivo e a sustentabilidade do futebol moçambicano nos próximos anos.