Apesar das garantias dadas pela Embaixada da África do Sul em Maputo, cidadãos moçambicanos continuam a manifestar receios em relação à sua segurança no território sul-africano, perante a ameaça do movimento “Dudula”, associado a ataques xenófobos contra estrangeiros.
O alto-comissário da África do Sul, Puleng Chaba, assegurou que o governo de Pretória não vai tolerar atos de violência contra imigrantes e prometeu responsabilizar criminalmente todos os envolvidos no movimento.
Chaba sublinhou que a operação “Dudula” não tem caráter oficial, sendo conduzida por grupos que procuram criar instabilidade social através da hostilização de cidadãos estrangeiros.
Ainda assim, organizações da sociedade civil lembram que episódios anteriores de violência xenófoba foram marcados pela lentidão da reação policial, deixando comunidades estrangeiras vulneráveis.
Moçambique é um dos países mais expostos, dada a forte presença da sua diáspora na África do Sul, sobretudo em áreas de mineração, construção civil e serviços informais, onde os trabalhadores estão frequentemente sujeitos a abusos.
As autoridades diplomáticas moçambicanas consideram positiva a mensagem de Pretória, mas insistem na necessidade de vigilância permanente, de modo a garantir que as medidas anunciadas não fiquem apenas no plano retórico.
A operação “Dudula” ganhou visibilidade ao defender a expulsão de imigrantes africanos, acusando-os de ocupar postos de trabalho e espaços de negócio destinados aos sul-africanos. O discurso, carregado de populismo, tem atraído apoios em zonas urbanas marcadas pelo desemprego juvenil.
Segundo analistas, a persistência de movimentos como o “Dudula” revela a fragilidade do tecido social sul-africano, pressionado por desigualdades profundas e pelo aumento do custo de vida.
Para muitos moçambicanos residentes no país vizinho, o clima de insegurança ultrapassa o campo político e traduz-se em medo no quotidiano, limitando a liberdade de circulação e o acesso a oportunidades económicas.
O alto-comissário reiterou que Pretória está a reforçar o quadro legislativo e operacional para prevenir ataques xenófobos, destacando a necessidade de maior cooperação regional no combate às causas estruturais da instabilidade.
Apesar disso, líderes comunitários moçambicanos na África do Sul defendem que apenas uma aplicação firme da lei e o desmantelamento efetivo das redes ligadas ao “Dudula” poderão devolver confiança às comunidades estrangeiras.
Nos últimos anos, a violência xenófoba na África do Sul já resultou em dezenas de mortes, saques de estabelecimentos comerciais e deslocações forçadas de imigrantes, episódios que continuam vivos na memória coletiva.
Para observadores, a credibilidade da promessa de Pretória será medida não pelas palavras, mas pela capacidade de evitar novos ataques e garantir que os responsáveis sejam efetivamente levados à justiça.
Enquanto isso, milhares de moçambicanos seguem a viver entre a necessidade de permanecer na África do Sul, em busca de sustento, e o medo de serem alvo de hostilidade num país que, oficialmente, se diz comprometido com a integração regional.