As províncias de Maputo, Gaza e Sofala poderão ser severamente afetadas por cheias entre outubro de 2025 e abril de 2026. O alerta foi lançado esta sexta-feira pelo diretor-geral do Instituto Nacional de Meteorologia (INAM), Agostinho Vilanculo, no âmbito da abertura do Décimo Segundo Fórum Nacional de Antevisão Climática (FNAC XII), realizado em Maputo.
O responsável explicou que os modelos de previsão apontam para uma precipitação acima da média, o que poderá provocar inundações com impacto significativo em infraestruturas, populações e setores produtivos. Segundo Vilanculo, o INAM já está a monitorar de perto as zonas de risco, de modo a antecipar respostas rápidas às possíveis ocorrências.
“O nosso trabalho é garantir que a informação climática chegue a todos os sectores e comunidades, permitindo que medidas de mitigação sejam tomadas atempadamente”, disse Vilanculo, em entrevista a jornalistas após a cerimónia de abertura.
Criado em 2014, o FNAC constitui uma plataforma de diálogo entre especialistas nacionais e internacionais, promovendo a partilha de previsões sazonais e a sua aplicação prática em setores como Agricultura, Saúde, Hidrologia, Energia, Estradas e Gestão do Risco de Desastres.
Vilanculo frisou que, para este período chuvoso, as precipitações poderão ultrapassar os 800 milímetros em algumas regiões, com agravamento do risco devido às descargas a montante na vizinha África do Sul, que inevitavelmente terão reflexos em bacias hidrográficas nacionais.
“Estamos a trabalhar em coordenação com parceiros regionais para acompanhar as descargas dos principais rios. Essa partilha de informação é essencial para reduzir os impactos e proteger vidas humanas”, acrescentou o diretor-geral.
Por sua vez, o climatologista Isaías Raiva, do INAM, reforçou que o país poderá enfrentar “chuvas fora do normal”, com repercussões diretas na vida das populações e no funcionamento de diversas instituições interligadas. “O cenário que se coloca é de desafios acrescidos em termos de logística e resiliência comunitária”, advertiu.
O alerta climático motivou também reações no setor da saúde. O representante do Instituto Nacional de Saúde, Américo José, afirmou que já foram acionados mecanismos de prevenção para responder a surtos de doenças associadas às inundações, como cólera, malária e diarreias.
José garantiu que as equipas de saúde pública estão mobilizadas e devidamente capacitadas para atender as comunidades mais expostas. “Estamos a trabalhar com as direções provinciais para assegurar medicamentos, campanhas de sensibilização e equipas móveis em locais vulneráveis”, explicou.
O fórum contou ainda com a participação de representantes do setor agrícola, que salientaram a necessidade de ajustar o calendário de sementeira e reforçar a assistência técnica aos camponeses. A previsão de chuvas intensas poderá, por um lado, beneficiar a produção agrícola, mas também causar perdas severas em áreas de cultivo mal drenadas.
Os setores de energia e estradas também foram destacados, pela sua vulnerabilidade a cheias prolongadas. Técnicos presentes no encontro alertaram que interrupções no fornecimento de eletricidade e cortes de vias de acesso podem comprometer o abastecimento de bens essenciais e dificultar operações de emergência.
O FNAC XII reafirmou a importância da integração das previsões climáticas nos planos estratégicos nacionais e locais, sublinhando que a resiliência às mudanças do clima depende da cooperação entre instituições e da preparação das comunidades.
Com a temporada chuvosa prestes a iniciar, as autoridades renovaram o apelo às populações para que estejam atentas às informações meteorológicas e sigam as recomendações oficiais. “A prevenção continua a ser a nossa maior arma contra desastres naturais”, concluiu Agostinho Vilanculo.