O Malawi realiza esta semana as eleições gerais de 2025 e o método escolhido para a organização da votação tem despertado atenção dentro e fora do país. Diferente de Moçambique e de outros Estados da região, as urnas são colocadas em espaços abertos, ao ar livre, permitindo que todo o processo seja acompanhado de forma visível pela comunidade.
A decisão da Comissão Eleitoral malawiana assenta num princípio: a transparência. Ao colocar as urnas em locais descobertos, o processo reduz a margem para suspeitas de fraude, como o preenchimento extra de boletins ou o manuseio fora do alcance dos olhos do eleitorado. Cada etapa é acompanhada por membros das mesas, fiscais dos partidos, observadores e cidadãos comuns.
Mesmo existindo salas de aula e outras infraestruturas que poderiam ser usadas para montar cabines de voto e locais de contagem, as autoridades optaram por manter as operações em áreas abertas dentro dos recintos escolares. A prioridade, segundo explicaram, é “garantir confiança total” num processo que tem sido posto à prova em anteriores pleitos.
O contraste com Moçambique é inevitável. Aqui, o modelo privilegia o voto em cabines fechadas, uma prática que assegura a privacidade, mas que muitas vezes alimenta desconfianças em torno da gestão dos boletins, sobretudo na fase da contagem. Em vários pleitos, partidos e observadores apontaram falta de clareza nessa etapa decisiva.
Analistas eleitorais sublinham que a opção do Malawi pode ser entendida como uma resposta às críticas recorrentes sobre a lisura dos processos africanos. Ao expor todo o procedimento à vista dos eleitores, o país coloca-se sob escrutínio público permanente, diminuindo as brechas para contestação.
No entanto, há também quem questione se o modelo malawiano não compromete a privacidade do voto. Mesmo com a transparência assegurada, críticos lembram que o sigilo é um dos princípios centrais das democracias modernas e deve ser garantido para proteger os cidadãos de pressões políticas ou sociais.
Em Moçambique, a Comissão Nacional de Eleições tem defendido a utilização de cabines como prática alinhada com padrões internacionais. Ainda assim, episódios de suspeita sobre manuseio irregular dos boletins continuam a marcar os pleitos, alimentando o debate sobre a necessidade de maior visibilidade e confiança no processo.
A experiência do Malawi mostra, contudo, que há espaço para repensar modelos. A combinação entre transparência e sigilo, equilibrada de acordo com cada contexto, pode ser um caminho para fortalecer a credibilidade eleitoral em toda a região.
Resta saber se os resultados das eleições de 2025 em território malawiano, conduzidas sob o olhar atento da comunidade, serão suficientes para provar que, em matéria de confiança democrática, a exposição pode ser tão importante quanto a privacidade.