A realização da terceira edição da Gala do Media Clube, anunciada esta terça-feira, 24 de setembro, em Maputo, volta a centrar atenções sobre a valorização da comunicação social em Moçambique.
Mais do que um momento festivo, o evento lança um debate necessário, questionando qual seria o verdadeiro lugar dos profissionais da comunicação na construção do desenvolvimento socioeconómico do país.
Tomás Vieira Mário, diretor executivo do Media Clube, afirmou que “os media precisam de ser reconhecidos como instituições estratégicas, cuja atuação diária influencia a cidadania, a democracia e a economia”.
As suas palavras ganham eco num contexto em que jornalistas continuam a enfrentar dificuldades estruturais, desde salários baixos até à escassez de meios técnicos e pressões externas que afetam a independência editorial.
Ao criar um espaço de reconhecimento, o Media Clube procura não apenas distinguir mérito, mas também dar visibilidade à relevância da profissão. “Valorizar os comunicadores é valorizar a democracia”, sublinhou Vieira Mário.
Nesta edição, a gala abrange tanto os meios tradicionais como rádio, televisão e imprensa e novas plataformas digitais, incluindo blogues, webjornalismo e influenciadores digitais.
Segundo Vieira Mário, “os influenciadores têm hoje um papel real na disseminação de informação, e é importante que esse contributo seja igualmente reconhecido como parte do ecossistema comunicacional”.
O dirigente destacou ainda que os critérios de avaliação serão orientados pela transparência e equidade, dando ao público a possibilidade de votar nos profissionais mais destacados entre 2024 e 2025. “O processo vai ser aberto e inclusivo, com espaço para que todos participem”, frisou.
O processo será viabilizado por uma parceria com a Vodacom Moçambique, que disponibilizará uma plataforma de votação via SMS. Segundo o dirigente, “cerca de 75 por cento dos profissionais do país estarão abrangidos na iniciativa”.
Simon Karikari, CEO da Vodacom Moçambique, referiu que “a tecnologia vai permitir que os cidadãos escolham, de forma simples e acessível, os profissionais e órgãos que mais se destacaram durante o ano”.
Karikari sublinhou ainda que “a transparência deve ser a marca deste processo, porque só assim todos poderão sentir-se representados e valorizados”.
Contudo, a dependência de plataformas digitais levanta também questões de acessibilidade em regiões onde a rede ainda é instável ou inexistente, o que poderá limitar a abrangência do voto popular.
Experiências de países como a África do Sul e o Quénia mostram que galas e prémios de comunicação podem fortalecer a profissão, desde que acompanhados por políticas de capacitação e investimento em redações.
Em países vizinhos, estes eventos servem também como espaços de advocacia, onde os profissionais discutem a liberdade de imprensa e reivindicam melhores condições laborais, temas ainda sensíveis em Moçambique.
Ao comparar, fica claro que o desafio não é apenas reconhecer bons profissionais, mas também criar condições estruturais para que a qualidade do jornalismo se consolide a longo prazo.
Ainda assim, a Gala do Media Clube já se afirma como um marco no calendário da comunicação social moçambicana, reunindo jornalistas, instituições, parceiros e sociedade civil em torno da valorização da profissão.
Analistas defendem que, se bem aproveitada, a iniciativa pode ser um ponto de partida para um debate nacional sobre políticas públicas para o setor da comunicação.
Vieira Mário concluiu a conferência afirmando: “Reconhecer os comunicadores é reconhecer o direito à informação, essencial para a consolidação da democracia no país”.
A terceira edição da gala, prevista para Maputo, poderá assim ser mais do que uma celebração: um apelo à valorização efetiva da comunicação como pilar do desenvolvimento em Moçambique, em sintonia com práticas de outros países africanos.