O Governador do Banco de Moçambique (BM), Rogério Zandamela, emitiu um alerta sobre a trajectória da dívida pública interna e externa no país, sublinhando que o seu crescimento contínuo não é sustentável. A declaração foi feita durante a conferência de imprensa pós-reunião do Comité de Política Monetária.
Questionado sobre o impacto do aumento da dívida no crescimento económico, Zandamela traçou uma “linha vermelha clara”.
“A dívida, ela continua a crescer, mas não pode crescer de uma maneira infinita. Porque se ela continuar a crescer ao ponto de atingir nuvens preocupantes de insustentabilidade, poderá causar problemas à economia”, afirmou o Governador.
O aumento da dívida foi ligado a causas como “problemas na arrecadação de receitas, importações e outros factores”. Apesar da preocupação, Zandamela expressou confiança nos esforços do Governo para reverter a situação.
“Eu sei, tenho a certeza, que o governo está fazendo tudo o que é possível para conter esta dívida a níveis razoáveis”, comentou, destacando a necessidade de “medidas de receitas, medidas de despesas” e “todo tipo de ajustes” para “mitigar o crescimento desta dívida.”
Sobre os rumores de atraso nos pagamentos de títulos do Tesouro, Zandamela não confirmou, remetendo a responsabilidade para as instituições credoras. “Esta dívida tem dono. Então, é o dono, são os bancos que sabem se está sendo paga, paga em tempo ou não”, justificou.
Zandamela detalhou as reduções significativas na Taxa de Juro de Política Monetária (MIMO) desde o início do ciclo de normalização em Janeiro de 2024. A MIMO sofreu uma “redução brutal”, caindo mais de 700 pontos-base e situando-se agora abaixo dos 10%.
O Governador considerou o impacto desta redução como “certamente positivo”, beneficiando “as empresas, as famílias, o sector Estado.”
No entanto, abordou a percepção de que a redução da MIMO não se traduz integralmente nas taxas finais de crédito ao consumidor. Zandamela explicou que a Prime Rate, no caso a taxa de referência dos bancos comerciais, também reduziu “mais de 600 pontos-base”, mas que a taxa final varia em função do perfil de risco individual de cada cliente.
Reforçou que, no geral, as taxas caíram e o crédito à economia, excluindo o Estado, continua a aumentar, provando que a banca continua a conceder financiamento.