O Governador da Província de Maputo, Manuel Tule, procedeu nesta sexta-feira, na cidade da Matola, à entrega do primeiro lote de tablets a estudantes do Ensino Técnico Profissional, no âmbito de um programa que prevê a distribuição de 180 dispositivos digitais durante o presente quinquénio.
A iniciativa marca o arranque de um projeto provincial que pretende impulsionar a inclusão digital e aproximar os jovens das tecnologias de informação e comunicação (TICs), encaradas pelo Executivo como ferramentas centrais para o desenvolvimento social e económico.
Ao falar durante a cerimónia, Tule afirmou que a revolução tecnológica em curso exige maior investimento no capital humano. “Nesta revolução silenciosa chamada transformação digital, só vão vencer aqueles que dominarem a ciência e a técnica do uso destes dispositivos”, disse.
O Governador explicou que os tablets serão entregues de forma faseada e equitativa, abrangendo estudantes de todos os distritos da província. O primeiro grupo contemplado foi composto por 25 formandos do Ensino Técnico Profissional, que receberam os dispositivos na presença de autoridades locais, parceiros e representantes da sociedade civil.
Segundo Tule, o país precisa de jovens preparados para responder aos desafios da globalização. “Não existe desenvolvimento social sem ciência e tecnologia. O nosso país conta convosco para se tornar uma nação competitiva”, reforçou.
As autoridades provinciais salientaram que a aposta em tecnologias digitais não é apenas um gesto de modernização, mas também uma resposta às necessidades de inclusão social e à criação de novas oportunidades económicas.
O programa prevê que os dispositivos digitais sejam usados como ferramentas de apoio ao estudo e à pesquisa, reduzindo desigualdades no acesso à informação e reforçando a capacidade dos estudantes em acompanhar a evolução tecnológica.
Para além da entrega dos tablets, Tule destacou que o sucesso da iniciativa dependerá da forma responsável como os beneficiários irão usar os equipamentos. “Este novo conceito de espaço digital deve ser encarado com responsabilidade e participação de todos”, alertou.
Durante a cerimónia, foi ainda sublinhado que o Conselho Executivo Provincial de Maputo tem como prioridade o desenvolvimento e promoção das TICs como instrumentos de boa governação, transparência e inclusão social.
Parceiros como o Instituto Nacional das Comunicações de Moçambique (INCM), a Movitel, o Parque de Ciência e Tecnologia da Maluana, o Instituto Agro-industrial de Moamba, o Instituto Politécnico e várias escolas secundárias foram reconhecidos pelo seu contributo para o sucesso do programa.
Os 180 tablets serão entregues ao longo dos próximos meses, abrangendo estudantes de todos os distritos da província, num esforço que o Executivo considera fundamental para reduzir as assimetrias digitais e preparar a juventude para o futuro.
No entanto, a medida não escapou à análise crítica de especialistas em educação. O investigador Tomás Mugabe, docente universitário e analista de políticas públicas de ensino, disse ao isocnews que a distribuição de tablets “é um passo positivo, mas insuficiente” para resolver o problema da desigualdade digital.
Segundo ele, sem acesso regular à internet e sem professores capacitados, os dispositivos podem transformar-se apenas em símbolos políticos. “Um tablet sem conectividade é como uma biblioteca sem livros. O risco é termos equipamentos sem utilização plena”, frisou.
Na mesma linha, a pedagoga Lurdes Nhachungue, especialista em inovação educativa, reconheceu o mérito da iniciativa, mas alertou que o governo precisa de garantir conteúdos digitais adaptados ao currículo nacional.
“Não basta entregar equipamentos. É preciso garantir plataformas educativas, conteúdos em língua portuguesa e formação contínua dos professores. Caso contrário, cria-se uma falsa ideia de inclusão”, argumentou.
Para Nhachungue, a digitalização do ensino é inevitável, mas deve ser acompanhada por políticas consistentes e investimentos em infraestruturas. “Sem energia elétrica estável e sem internet acessível, a inclusão digital continua a ser um privilégio para poucos.”
Apesar das críticas, ambos os analistas reconheceram que a entrega de tablets pode ter impacto positivo se for acompanhada de medidas complementares, como formação em literacia digital, produção de conteúdos pedagógicos e parcerias com empresas de telecomunicações.
O isocnews apurou que, neste momento, algumas escolas beneficiárias ainda não possuem ligações adequadas à rede, o que pode limitar o uso dos dispositivos.
Ainda assim, o projeto foi recebido como um passo relevante na consolidação da inclusão digital em Maputo, embora reste a dúvida sobre a sua sustentabilidade no longo prazo.
“Estamos a criar as bases para que os nossos jovens tenham acesso não apenas à tecnologia, mas também ao conhecimento que ela proporciona”, concluiu Tule.