As denúncias recentemente divulgadas pela justiça francesa, que apontam para um alegado envolvimento da TotalEnergies no financiamento de soldados que participaram na realização de assassínatoss em massa contra civis em Cabo Delgado, estão a colocar nova pressão sobre o Governo moçambicano.
Embora ainda não haja conclusões formais, especialistas defendem que o assunto não pode ser tratado como um episódio distante, dada a sua sensibilidade e implicações profundas.
Para o pesquisador do Centro de Integridade Pública (CIP) especializado em megaprojectos, Rui Maté, as autoridades nacionais devem actuar com prontidão e clareza.
Em entrevista à Isocnews nesta quarta-feira, em Maputo, o investigador sublinhou que o Estado tem a responsabilidade de se posicionar de forma firme sempre que surgem denúncias que envolvem direitos humanos e operações de empresas que actuam em sectores estratégicos.
Maté considera que a dimensão internacional do caso não isenta Moçambique da obrigação de procurar esclarecimentos próprios.
Pelo contrário, afirma que o Governo deve envolver-se activamente, tanto por via diplomática como institucional, para garantir que não há interferências externas que agravem o quadro de insegurança no norte do país.
O pesquisador destacou que as denúncias ultrapassam o domínio empresarial e tocam directamente na vida das comunidades que têm suportado as consequências do terrorismo desde 2017.
Para ele, qualquer informação que sugira a existência de financiamento a grupos insurgentes deve ser tratada com rigor, uma vez que afecta a confiança pública e a credibilidade do Estado.
As regiões afectadas, incluindo distritos já atingidos na província de Nampula, continuam a enfrentar deslocações massivas, perda de bens e risco constante para a população.
Neste contexto, Maté alerta que ignorar a gravidade das acusações seria desvalorizar a experiência das vítimas e comprometer a protecção da própria segurança nacional.
Do ponto de vista institucional, o CIP considera que investigações independentes e transparentes são essenciais para salvaguardar o país de interpretações externas que possam prejudicar a imagem do Estado.
Maté acrescenta que Moçambique deve mostrar capacidade de escrutínio interno, sem esperar exclusivamente por conclusões de tribunais estrangeiros.
A dimensão económica do problema também pesa sobre a equação. A TotalEnergies é um dos actores-chave nos megaprojectos de gás natural liquefeito, e o relacionamento entre o Governo e a empresa tem impacto directo no clima de investimento.
Ainda assim, o pesquisador sublinha que a protecção das populações deve prevalecer sobre quaisquer interesses económicos.
Maté defende igualmente que a transparência na gestão de megaprojectos é indispensável para garantir que não existam canais, directos ou indirectos, que alimentem a violência no norte. Para ele, o combate ao terrorismo deve ser acompanhado de um controlo rigoroso sobre as actividades das empresas que operam na região.
Em última análise, o pesquisador do CIP reforça que estas denúncias representam uma oportunidade para o Estado demonstrar capacidade de resposta e compromisso com os direitos humanos.
Uma intervenção clara, institucional e tecnicamente credível, afirma, poderá fortalecer a posição do país tanto no plano interno como no internacional.







