O Presidente da República, Daniel Chapo, defendeu esta segunda-feira, na vila do Songo, em Tete, uma mudança profunda no modelo de gestão e comercialização da energia produzida pela Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), durante a cerimónia que assinalou os 18 anos da reversão da barragem para a gestão plena do Estado moçambicano.
Num discurso marcado por referências à soberania energética, Chapo afirmou que a HCB continua a representar “um pedaço da alma nacional” e um dos pilares da independência económica. Recordou que, desde 2007, a empresa já transferiu mais de dois mil milhões de dólares para o Estado, resultado que considera prova clara do impacto da reversão. “O que celebramos hoje não é apenas uma barragem. É a afirmação da capacidade de Moçambique decidir e conquistar”, afirmou.
O Chefe de Estado apresentou cinco grandes orientações que considera essenciais para garantir que Cahora Bassa responda aos desafios actuais do sector. A primeira tem a ver com a necessidade de reformar o modelo de comercialização da energia, de forma a proteger o valor real das exportações e reduzir perdas resultantes da volatilidade das moedas estrangeiras. Para Chapo, o país não pode continuar a vender energia em condições que enfraquecem os ganhos reais. “A energia é o novo ouro e deve ser tratada como tal”.
A segunda orientação aponta para a integração da HCB na estratégia nacional de desenvolvimento energético do Zambeze, incluindo a coordenação com futuros projectos como Mphanda Nkuwa, Lupata e Boroma. Chapo afirmou que o rio Zambeze representa “uma artéria vital” da economia e pode sustentar a industrialização, o crescimento agrícola e a construção de novas cadeias de valor.
Como terceira orientação, o Presidente defendeu a integração plena da HCB no quadro legal e institucional do sector energético, articulando-se de forma mais directa com o Operador do Sistema e com o Operador do Mercado, garantindo assim estabilidade, eficiência e transparência desde a geração até à comercialização da energia.
A quarta orientação anunciada pelo Chefe de Estado diz respeito à criação de um Programa de Inclusão Social e Desenvolvimento Rural, que deverá beneficiar as comunidades em torno da barragem. Chapo sublinhou que não pretende um modelo assistencialista, mas sim iniciativas que promovam agricultura moderna, empreendedorismo jovem, infra-estruturas comunitárias e formação técnica para os residentes locais.
Finalmente, Chapo apelou à liderança da HCB que transforme a empresa, já sólida, numa organização extraordinária, capaz de investir na expansão, modernização e inovação. Considera que o país exige uma liderança energética que responda aos desafios de forma ambiciosa, orientada para o futuro e capaz de converter potencial em riqueza nacional.
Durante a cerimónia, o Chefe de Estado testemunhou a assinatura de um Memorando de Entendimento entre a HCB e a Fundação Lurdes Mutola, iniciativa que, segundo disse, demonstra que a energia produzida no Songo deve servir também para “iluminar talentos e oportunidades” para a juventude moçambicana.
Enaltecendo a importância estratégica do Zambeze, Chapo afirmou que o rio tem capacidade para sustentar o desenvolvimento industrial e agrícola do país. “Se a energia é vida, então Cahora Bassa é uma das nossas maiores fontes dessa vida”, declarou. Encerrando o seu discurso, chamou à nova missão nacional de construção da independência económica, enfatizando que esta é uma tarefa histórica e inadiável. “Com o Zambeze e Cahora Bassa, vamos construir o Moçambique que todos sonhamos”, concluiu.








