O analista e economista moçambicano Costantino Macaringue considera que o anúncio de uma arrecadação histórica de cerca de 350 biliões de meticais pela Autoridade Tributária deve ser motivo de preocupação e não de celebração, num contexto em que a economia nacional permanece claramente deprimida.
Segundo Macaringue, “num país com crescimento económico frágil, desemprego elevado e baixo dinamismo produtivo, uma arrecadação recorde levanta mais perguntas do que respostas”, sublinhando que os números não se reflectem na vida real dos cidadãos.
Para o economista, a contradição torna se evidente quando se observa que, apesar do aumento da receita fiscal, o investimento público continua estagnado há mais de uma década, sem sinais claros de expansão em infra estruturas, serviços sociais ou estímulos à produção.
“Para o Governo e para muitos dos seus aliados, este valor parece insuficiente para ser visível, porque não se traduz em obras, nem em melhoria dos serviços públicos”, afirma Costantino Macaringue, acrescentando que a economia real continua paralisada.
O analista chama ainda a atenção para o facto de a mesma arrecadação ser igualmente limitada para sustentar, de forma consistente, o pacote de medidas recentemente promulgado pelo Presidente da República, o que expõe fragilidades na arquitectura orçamental do Estado.
Na sua leitura, “o problema não está apenas em arrecadar mais, mas em como e de quem se arrecada”, defendendo que a pressão fiscal continua concentrada sobre uma base estreita de contribuintes, num país com fraca diversificação económica.
Costantino Macaringue sustenta que esta situação revela “uma discrepância gritante entre o discurso oficial de sucesso económico e a prática efectiva de promoção de uma economia forte, geradora de emprego e renda”.
Para o economista, a insistência em apresentar a arrecadação como vitória ignora o sofrimento das famílias e das empresas, num ambiente marcado pelo aumento do custo de vida, encerramento de negócios e ausência de oportunidades para os jovens.
Macaringue é categórico ao afirmar que “não somos vítimas de factores externos apenas, somos também os nossos próprios inimigos”, defendendo que sem reformas profundas na gestão da despesa pública e na política económica, números recordes continuarão a esconder uma economia fraca e desigual.






