O processo de Diálogo Nacional Inclusivo em Moçambique está a despertar maior interesse e envolvimento das organizações da sociedade civil do que dos partidos políticos, sobretudo os da oposição. A constatação é do analista e comentador político Américo Sozinho, que falou à reportagem da IsocMedia esta quarta-feira, destacando a urgência de um debate que reflita as reais aspirações do povo moçambicano.
Segundo Sozinho, a sociedade civil tem mostrado maior dinamismo e comprometimento com o processo de reconciliação e desenvolvimento nacional, ao contrário das formações políticas, especialmente as da oposição, que têm demonstrado fragilidades estruturais e falta de articulação estratégica.
“O espectro dos partidos no país revela uma militância pouco ativa e descomprometida com os reais problemas da sociedade. Embora exista uma comissão técnica criada para viabilizar o diálogo nacional inclusivo, é importante lembrar que este diálogo deve ir além dos interesses partidários, envolvendo todas as forças vivas da nação”, destacou o analista.
Historicamente, o diálogo político em Moçambique tem sido dominado por conversações bipolares entre o Governo e a Renamo. No entanto, tais diálogos não conseguiram resolver de forma duradoura os conflitos nem implementar reformas profundas. Para Sozinho, o novo modelo busca justamente superar essas limitações, incluindo no processo organizações da sociedade civil que tradicionalmente estiveram à margem das negociações.
“Nos últimos tempos, as organizações da sociedade civil têm sido mais incisivas do que os partidos políticos. Enquanto estes se concentram em disputas internas ou em manter posições de poder, os movimentos civis estão na linha da frente, exigindo reformas na administração pública, mudanças na legislação eleitoral e respeito pelos direitos humanos”, frisou.
O analista considera que a sociedade civil — incluindo ordens profissionais como a dos médicos, advogados, professores, jornalistas, contabilistas e sindicatos — deve ter um papel ativo na construção de propostas e soluções viáveis. Para ele, um diálogo verdadeiramente inclusivo só será possível se todas essas entidades puderem contribuir com suas ideias, experiências e expectativas.
A intervenção do presidente da República, Daniel Francisco Tchapo, reforça essa visão. Em pronunciamentos recentes, o chefe de Estado assegurou que o Diálogo Nacional será aberto a todos os cidadãos e organizações, sem exclusões. “Queremos garantir estabilidade social e política, base indispensável para o progresso econômico do país”, afirmou Tchapo.
Américo Sozinho conclui defendendo que a diversidade de opiniões é essencial para que o processo de diálogo produza resultados tangíveis: “Cada moçambicano deve ser ouvido, independentemente de sua raça, religião ou posição política. Só com a participação de todos será possível alcançar uma paz duradoura e implementar reformas que respondam às necessidades reais da população.”
O Diálogo Nacional Inclusivo é uma oportunidade histórica para Moçambique reconstruir os seus pilares democráticos, fortalecer a coesão social e preparar o caminho para um desenvolvimento sustentável e justo. A participação ativa da sociedade civil é, portanto, não só desejável, mas indispensável.