Mais de uma centena de jovens reuniram-se, na passada sexta-feira, 13 de Junho, no Município de Marracuene, província de Maputo, para participar num encontro promovido pelo Conselho Municipal, através da Vereação da Educação, Juventude, Desporto e Cultura.
Sob o lema “Desafio da Juventude para o Crescimento Económico do Município de Marracuene”, o evento destacou-se como uma vibrante plataforma de diálogo intergeracional, que deu voz aos anseios, propostas e reflexões da juventude local sobre os caminhos possíveis para o progresso económico e social do distrito.
O ambiente foi marcado por um entusiasmo notável, onde os jovens demonstraram um elevado sentido de responsabilidade e espírito crítico. Vindos de diferentes zonas do município, incluindo bairros periféricos e comunidades rurais, os participantes não se limitaram a expor problemas, mas avançaram com propostas concretas, refletindo um profundo conhecimento das suas realidades e o desejo firme de participar activamente na construção do futuro da sua terra.
Durante o encontro, vários temas relevantes foram abordados, destacando-se a participação cidadã da juventude, o empreendedorismo como via para o autoemprego, a inclusão digital, o papel da juventude nas dinâmicas socioeconómicas e a urgência de políticas públicas mais alinhadas com as aspirações juvenis.
As discussões decorreram num formato aberto, com espaço para intervenções espontâneas, apresentação de projectos e debates em grupos temáticos.
A sessão de abertura contou com a intervenção do Director Provincial da Educação, Juventude, Desporto, Emprego e Cultura da Província de Maputo, Rogério Chiau, que encorajou os jovens a manterem-se activos, engajados e propositivos.
Segundo Chiau, “a juventude não deve ser vista apenas como receptora de programas e políticas, mas como agente transformador da realidade. Precisamos de jovens que criem soluções, que inovem, que mobilizem comunidades e que exerçam a cidadania de forma plena”.
Um dos temas centrais do encontro foi a criação de condições estruturantes para o autoemprego juvenil. Os participantes defenderam que o acesso facilitado a microcréditos, a criação de incubadoras de negócios e o reforço da formação técnica e profissional devem ser prioridades para qualquer plano de desenvolvimento local.
Para muitos, as políticas municipais devem ir além da retórica, oferecendo instrumentos concretos que permitam aos jovens gerar rendimentos e contribuírem activamente para o crescimento económico do distrito.
Outro ponto forte das discussões foi a necessidade de revitalização dos centros culturais e desportivos.
Os jovens destacaram que estes espaços não são apenas para lazer, mas funcionam como verdadeiras escolas de cidadania, onde se promove a criatividade, a disciplina, o espírito de equipa e o respeito pela diversidade.
A proposta de reabilitar infraestruturas abandonadas e criar novas estruturas polivalentes foi amplamente apoiada.
Os jovens apelaram também para a implementação de programas de estágios profissionais, em coordenação com empresas locais, organizações da sociedade civil e instituições públicas.
Esta medida, segundo afirmaram, permitiria uma transição mais suave entre a formação académica e a inserção no mercado de trabalho, diminuindo os níveis de desemprego juvenil, que continuam a ser preocupantes em Marracuene e noutras regiões do país.
Num tom assertivo e consciente, várias intervenções colocaram em evidência a necessidade de se garantir uma maior inclusão das raparigas nos programas de formação, empreendedorismo e liderança comunitária.
Foram denunciadas práticas que ainda hoje perpetuam desigualdades de género, como o casamento prematuro e a gravidez precoce, e exigida a criação de mecanismos concretos para garantir a igualdade de oportunidades e o empoderamento feminino.
Outro eixo importante das discussões foi a educação sexual e reprodutiva, considerada fundamental para garantir que os jovens tomem decisões informadas e responsáveis sobre a sua saúde.
Foram elogiadas algumas iniciativas já existentes, mas os participantes defenderam o reforço da abordagem comunitária e o envolvimento de líderes religiosos e tradicionais na sensibilização das comunidades.
No campo ambiental, os jovens manifestaram grande preocupação com os impactos das mudanças climáticas e o estado da gestão urbana no município. Apontaram falhas na recolha de resíduos sólidos, problemas de saneamento básico e desordenamento urbanístico. Sugeriram, entre outras medidas, o lançamento de campanhas regulares de limpeza, a plantação de árvores nativas e a promoção da educação ambiental nas escolas e nos centros comunitários.
O evento serviu também de palco para a apresentação de projectos em curso, nomeadamente bolsas de estudo para jovens desfavorecidos, programas de formação técnica financiados pelo governo municipal, e parcerias com organizações não-governamentais para o fortalecimento do associativismo juvenil.
Estas iniciativas foram bem acolhidas, mas os jovens defenderam maior transparência na sua implementação e uma comunicação mais eficaz sobre os critérios de acesso.
Foi igualmente debatida a criação de mecanismos permanentes de diálogo entre o Conselho Municipal e a juventude, com destaque para a proposta de um Conselho Consultivo Jovem que funcione como órgão de auscultação e proposta de políticas públicas.
Os participantes defenderam que esta estrutura poderia permitir uma interação mais fluida e eficaz entre os decisores locais e os representantes juvenis, contribuindo para políticas mais realistas e ajustadas às necessidades da juventude.
O vereador da Educação, Juventude, Desporto e Cultura destacou, no encerramento do encontro, que a juventude de Marracuene representa um dos pilares mais promissores do distrito, sublinhando que “é imperativo escutá-los, dar-lhes espaço e criar condições para que sejam actores principais no processo de desenvolvimento. A energia e a criatividade da juventude são a nossa maior riqueza”.
Analistas e observadores presentes no evento realçaram que Marracuene tem um enorme potencial para se transformar num polo de crescimento inclusivo, desde que seja capaz de investir de forma estruturada no seu capital humano.
A sua localização estratégica, próxima da capital e de importantes corredores económicos, aliada ao potencial agrícola, turístico e industrial da região, coloca o município numa posição privilegiada.
No entanto, advertiram que tais oportunidades só serão aproveitadas se houver uma governação participativa, que integre de forma efectiva os jovens nos processos de tomada de decisão.
O encontro terminou com um momento simbólico de leitura de um compromisso colectivo, no qual os jovens reafirmaram a sua disponibilidade para trabalhar em prol do desenvolvimento local, baseados em valores de solidariedade, justiça social, inclusão e inovação.
Ficou ainda acordada a realização de encontros periódicos semelhantes, com o objectivo de manter viva a chama da participação juvenil e monitorar a implementação das propostas apresentadas.
Com este evento, Marracuene dá mais um passo firme na consolidação de uma cultura de governação aberta, participativa e orientada para resultados concretos. A juventude, longe de ser apenas espectadora, afirma-se cada vez mais como protagonista activa da mudança e do progresso.
O desafio agora é transformar a energia das palavras em acções sustentadas, capazes de gerar impacto real na vida das comunidades.