‘’Conflitos logísticos das Linhas Aéreas de Moçambique forçam segundo adiamento consecutivo de partida do Moçambola’’
A partida entre o Ferroviário de Maputo e o Textáfrica do Chimoio, inicialmente agendada para este domingo, 6 de Julho, às 14h45, foi novamente adiada para segunda-feira, 8, no mesmo horário, segundo confirmou a Liga Moçambicana de Futebol (LMF), entidade gestora do Moçambola 2025.
A mudança surge devido a reiteradas dificuldades logísticas enfrentadas pelo clube visitante, que voltou a experimentar sérios constrangimentos no seu processo de deslocação à capital do país.
O jogo, inserido na quinta jornada do campeonato nacional, tem sido alvo de sucessivos reajustes, consequência directa da precariedade dos serviços de transporte aéreo nacional, situação que afecta não só a equipa do planalto de Manica, mas outras agremiações do Moçambola que dependem das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) para cumprir os compromissos do calendário competitivo.
A LMF, no seu comunicado oficial emitido neste sábado, lamenta os inconvenientes causados pela alteração, mas reforça que a medida foi tomada em nome da equidade desportiva e do bem-estar dos atletas.
De acordo com o apuramento da IsocNews, o Textáfrica enfrentou a primeira barreira logística na última quinta-feira, 3 de Julho, quando a sua tentativa de deslocação a Maputo falhou devido à indisponibilidade de voos comerciais regulares entre Chimoio e a capital moçambicana.
Como alternativa, a equipa viajou por via terrestre até à cidade da Beira, com o objectivo de embarcar, ainda na noite do mesmo dia, num voo programado com destino à capital. No entanto, a operação não decorreu como previsto.
Fontes próximas à direcção do clube “fabrista” relatam que, ao chegarem à Beira por volta das 16 horas, depararam-se com cancelamentos e atrasos inexplicáveis no serviço aéreo, o que obrigou os jogadores, técnicos e dirigentes a pernoitarem no Aeroporto Internacional da Beira.
Sem acesso a condições mínimas de repouso, alimentação ou assistência logística, a delegação do Textáfrica acabou por permanecer toda a noite nas instalações do terminal, aguardando nova janela de embarque.
Só ao início da manhã deste domingo, por volta das 07 horas, conseguiram finalmente aterrar em Maputo, depois de mais de 36 horas de viagem em condições profundamente desgastantes.
Este episódio, que se soma a outras dificuldades operacionais já registadas noutras jornadas do Moçambola, reacende o debate sobre os efeitos nefastos da fragilidade do sistema de transporte aéreo nacional no andamento regular da principal prova futebolística do país.
Para muitos analistas e dirigentes desportivos, o caso do Textáfrica simboliza uma crise sistémica que mina a competitividade, o profissionalismo e a credibilidade do campeonato, exigindo uma resposta institucional urgente por parte das autoridades governamentais e dos patrocinadores.
A decisão da Liga de remarcar novamente o jogo para segunda-feira, dia 7, às 14h45, foi comunicada oficialmente às partes envolvidas na manhã deste domingo. O Campo do Afrin, localizado na província de Maputo, foi confirmado como o palco do embate, mantendo-se o mesmo local inicialmente previsto.
A escolha do horário visou respeitar o intervalo mínimo regulamentar de descanso entre a chegada da equipa visitante e o início da partida, garantindo que ambas as formações possam competir em igualdade de condições físicas e psicológicas.
A direcção do Ferroviário de Maputo reagiu com compreensão ao novo adiamento, manifestando solidariedade para com o adversário e apelando a que sejam criadas condições para evitar que factos semelhantes se repitam. “Entendemos a situação e somos solidários com os colegas do Textáfrica. Esta situação, embora fora do nosso controlo, é uma oportunidade para as entidades desportivas e o governo repensarem o modelo de mobilidade das equipas, porque o Moçambola está a tornar-se vítima das fragilidades estruturais do país”, afirmou à imprensa um dirigente do clube “locomotiva”, que preferiu manter o anonimato.
Por sua vez, a direcção do Textáfrica lamentou os transtornos causados, sublinhando que a equipa encontra-se motivada para disputar o encontro e superar os desafios. “Foram dias difíceis, mas o nosso foco é o jogo. Queremos que as dificuldades fora das quatro linhas não afectem o desempenho dentro do campo. Estamos aqui para competir com dignidade”, disse um membro da comitiva “fabrista” à chegada ao Aeroporto Internacional de Maputo.
O adiamento da partida lança também interrogações sobre a gestão futura do calendário do Moçambola, que tem registado diversos constrangimentos, desde campos impróprios, atrasos salariais, até dificuldades logísticas como as agora registadas.
Em algumas ocasiões, há jogos com poucas horas de intervalo entre chegada e competição, o que levanta preocupações quanto à integridade física dos atletas e à imparcialidade competitiva.
No plano mais amplo, a situação revela igualmente as fragilidades do sector do transporte aéreo moçambicano, um serviço considerado estratégico, mas que enfrenta desafios crónicos, desde escassez de voos, atrasos constantes, dificuldades operacionais e limitações de cobertura nacional.
As Linhas Aéreas de Moçambique, principal operadora envolvida no transporte de equipas desportivas, têm sido alvo de críticas reiteradas por parte de diversos sectores da sociedade, sobretudo no que diz respeito à falta de previsibilidade e à gestão dos seus serviços.
Este novo episódio reacende a necessidade de repensar, com urgência, as políticas de apoio logístico às equipas participantes no Moçambola, particularmente as provenientes de regiões mais distantes e com menor acesso a meios de transporte fiáveis.
Alguns clubes já defendem a criação de um fundo de apoio à mobilidade ou mesmo a contratação de serviços logísticos dedicados à competição, como forma de minimizar os impactos negativos que a actual situação vem provocando no desempenho desportivo e na imagem da prova.
Entretanto, a expectativa mantém-se elevada quanto ao desfecho do jogo agendado para esta segunda-feira. O Ferroviário de Maputo, a jogar em casa, espera capitalizar o desgaste da equipa visitante para somar pontos importantes na sua caminhada rumo ao topo da tabela.
Já o Textáfrica promete fazer frente à adversidade com resiliência e espírito competitivo, garantindo que o futebol moçambicano continue a ser jogado com paixão, apesar dos obstáculos fora das quatro linhas.
No meio de toda a turbulência, uma certeza permanece: o Moçambola continua a ser um palco onde, para além de golos e jogadas, se travam batalhas silenciosas de resistência, superação e esperança num sistema desportivo mais organizado, mais justo e verdadeiramente nacional.