O governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, reconheceu nesta segunda-feira (29) que a economia nacional continua a enfrentar sérias restrições no acesso a divisas, um problema que pressiona os preços, afeta a capacidade produtiva e limita a recuperação de vários setores.
O alerta foi feito durante a conferência de imprensa em Maputo, onde anunciou a redução da taxa de juro de referência de 10,25% para 9,75%.
Zandamela explicou que a escassez de moeda estrangeira compromete diretamente a reposição de bens e serviços essenciais, desde matérias-primas para a indústria até produtos de primeira necessidade. “A pressão no mercado cambial tem impacto imediato na inflação e na vida das famílias, uma vez que reduz a oferta e encarece os produtos importados”, afirmou.
O governador alertou ainda que esta situação, se não for atenuada, pode neutralizar os efeitos positivos das recentes medidas de política monetária, nomeadamente a descida da taxa de juro, que, em condições normais, deveria estimular o crédito e dinamizar a economia.
Apesar das dificuldades no mercado cambial, Zandamela defendeu que o corte da taxa diretora representa um sinal de confiança na evolução da economia e nos mecanismos de estabilidade. Contudo, sublinhou que os efeitos da medida serão limitados se persistirem os constrangimentos de acesso a divisas.
O dirigente apontou a necessidade de maior disciplina orçamental e de reforço das receitas internas como elementos essenciais para reduzir a dependência do financiamento externo e mitigar as pressões sobre o metical.
Zandamela destacou ainda que o Banco de Moçambique tem vindo a reforçar os mecanismos de supervisão no mercado cambial, procurando garantir que as transações sejam feitas de forma transparente e em conformidade com as regras em vigor.
O governador reconheceu, porém, que as discrepâncias entre o mercado oficial e o mercado paralelo continuam a criar distorções, penalizando empresas e cidadãos que dependem de importações regulares.
Ao analisar a conjuntura, o governador sublinhou que os desafios fiscais e cambiais continuam a ser fatores de risco para a estabilidade, podendo condicionar a trajetória de crescimento do país no médio prazo.
Sobre o financiamento interno, Zandamela garantiu que os bancos não deixaram de apoiar a economia, mas admitiu que os custos do crédito ainda permanecem altos para pequenas e médias empresas, sobretudo devido ao ambiente de incerteza.
Segundo o responsável, a redução da taxa de juro agora anunciada poderá abrir algum espaço para a dinamização do crédito, ainda que os impactos práticos só sejam sentidos de forma gradual nos próximos meses.
O governador lembrou que a trajetória da política monetária do país tem sido marcada por prudência, depois de um longo processo de ajustamentos iniciado em 2014, em resposta a fortes choques fiscais e cambiais.
“O nosso compromisso é manter a estabilidade de preços e preservar o poder de compra das famílias, mas esse esforço só será sustentável se houver maior equilíbrio nas contas públicas e maior diversificação da economia”, frisou.
Zandamela reconheceu que a redução da taxa de juro é apenas uma parte do processo e que o verdadeiro desafio está em garantir estabilidade cambial num contexto de grande volatilidade internacional.
O governador terminou reiterando que o Banco de Moçambique continuará a alinhar as suas decisões às projeções de inflação e ao comportamento do mercado cambial, garantindo que a política monetária não perca de vista a proteção dos cidadãos.
A próxima reunião do Comité de Política Monetária está marcada para 20 de novembro, altura em que será feita nova avaliação da conjuntura económica e dos riscos associados à escassez de divisas.