A Polícia da República de Moçambique (PRM) deteve, na noite de domingo, vários indivíduos suspeitos de protagonizarem assaltos a cidadãos nas zonas da Coop, Malhangalene, Mercado Janet e na área conhecida como “Colômbia”.
Os suspeitos agiam em grupo, armados com catanas, paus e ferros, provocando pânico entre moradores e transeuntes, enquanto a polícia implementava uma operação de resposta imediata que resultou nas detenções.
Segundo o porta-voz da PRM em Maputo, superintendente adjunto Ernesto Manjate, a ação decorreu após múltiplas denúncias de ataques noturnos e visou neutralizar grupos com antecedentes criminais que vinham aterrorizando a população. Manjate afirmou que o reforço das patrulhas noturnas será permanente, destacando que a presença policial deve ser complementada por vigilância comunitária para aumentar a sensação de segurança.
As áreas afetadas, conhecidas pelo intenso comércio e movimentação diurna, tornam-se vulneráveis à criminalidade à noite devido à iluminação insuficiente, ruas estreitas e a reduzida presença policial. A “Colômbia”, em particular, apresenta uma topografia complexa de becos e construções improvisadas que dificulta o trabalho das autoridades e favorece a atuação dos criminosos.
Moradores relataram que o medo se tornou parte da rotina. António Nhamuave, da Coop, disse que os assaltos são cada vez mais violentos e organizados, tornando arriscado sair após as 19h. Helena Muianga, residente da Malhangalene, atribui a escalada da criminalidade ao consumo de drogas e à ausência de oportunidades para os jovens, que acabam recorrendo à violência como forma de sobrevivência.
No Mercado Janet, vendedores encerram as suas bancas cedo para evitar confrontos, e muitos afirmam que a sensação de insegurança limita a circulação e prejudica os negócios. Amélia Chissano, comerciante há oito anos, afirmou que “depois das seis da tarde, ninguém quer permanecer no mercado, pois há sempre rumores de grupos armados a rondar”.
O sociólogo Bernardo Mavie explicou que a criminalidade urbana é reflexo de fragilidades sociais e económicas profundas. Segundo ele, a repressão policial é necessária, mas insuficiente, sendo urgente investir em educação, cultura e oportunidades de emprego para reduzir a marginalidade juvenil. “Quando o sistema não oferece horizontes, o crime oferece identidade e pertença”, observou Mavie.
Grande parte dos detidos pela PRM tem entre 17 e 25 anos, muitos provenientes de bairros periféricos e marginalizados, sem acesso consistente à educação ou à inserção no mercado formal. Dados do Instituto Nacional de Estatística indicam que mais de 60% da juventude urbana encontra-se fora do emprego formal, refletindo a falência das políticas de inclusão social e de reintegração de jovens em risco.
O impacto da criminalidade não se limita aos danos materiais; os moradores relatam traumas psicológicos, isolamento social e constante sensação de vulnerabilidade. Celina Matola, residente da Malhangalene, afirmou que “um barulho na rua basta para pensarmos que há assalto”, evidenciando o efeito profundo do medo na vida quotidiana da comunidade.
As autoridades municipais reconhecem a gravidade do problema, mas enfrentam limitações logísticas e orçamentais. Medidas como melhoria da iluminação e recolha de resíduos estão em curso, mas resultados significativos ainda são lentos. Moradores defendem maior presença policial diária, reforçando que operações pontuais não resolvem o problema estrutural da criminalidade.
Em resposta, grupos de vigilância comunitária têm surgido em bairros como Malhangalene, organizando rondas voluntárias para reportar movimentos suspeitos à polícia. Fernando Bila, coordenador local, explicou que “não substituímos a polícia, mas ajudamos a proteger nossas famílias”, destacando a importância da colaboração comunitária para reduzir pequenos furtos.
A criminalidade também alimenta uma economia paralela de bens roubados, como telemóveis e carteiras, que acabam sendo revendidos em mercados informais, dificultando o controlo e mantendo a rentabilidade do crime. Manjate alertou que “enquanto houver procura por produtos de origem duvidosa, o crime continuará a ser lucrativo”, reforçando a necessidade de fiscalização integrada.
Apesar do cenário sombrio, surgem sinais de esperança em projetos culturais e desportivos que oferecem alternativas aos jovens, afastando-os da criminalidade. Centros juvenis em Malhangalene promovem música, teatro e oficinas educativas, provando que investimento social e cultural é uma estratégia eficaz para reduzir a violência urbana. Bernardo Mavie conclui que a segurança duradoura só será alcançada quando a cidade oferecer dignidade e oportunidades, transformando bairros vulneráveis em espaços de inclusão social e esperança.







