A recente descoberta de ouro na localidade de Mucododzi, no distrito de Gondola, província de Manica, voltou a evidenciar as profundas desigualdades e a falta de alternativas económicas que afectam várias comunidades moçambicanas. O que começou como um simples rumor sobre a existência de um novo filão transformou-se rapidamente numa corrida pela sobrevivência.
Centenas de pessoas, em grande parte jovens desempregados, deslocaram-se ao local na tentativa de encontrar uma oportunidade de sustento através da mineração artesanal. Sem ferramentas adequadas, protecção ou acompanhamento técnico, os garimpeiros escavam o solo com as próprias mãos, movidos pela esperança de uma vida melhor.
Mais do que um episódio isolado, a situação de Mucododzi reflecte um problema nacional. Em várias regiões do país, a exploração informal de ouro tornou-se o único meio de sobrevivência para muitas famílias que enfrentam a falta de emprego e de oportunidades de rendimento.
A ausência de uma presença estatal efectiva e a fraca regulação do sector permitem que o garimpo cresça de forma desordenada, criando riscos ambientais e sociais. De acordo com fontes locais, as autoridades chegaram ao local apenas depois de centenas de pessoas já estarem instaladas, o que dificultou qualquer tentativa de controlo.
A Polícia da República de Moçambique (PRM) deslocou-se à zona de Mucododzi com o objectivo de dispersar os mineiros e travar a expansão da actividade. No entanto, a operação acabou por gerar momentos de tensão, com relatos de confrontos, utilização de gás lacrimogéneo e acusações de abuso de autoridade.
“Disseram que não estamos organizados para trabalhar. Mas nós só queremos uma forma de sustentar as nossas famílias”, contou António José, garimpeiro de 28 anos, natural de Gondola, que vê na mineração artesanal a única possibilidade de rendimento.
Especialistas ouvidos pelo jornal O Autarca consideram que esta situação ilustra uma falha estrutural na gestão dos recursos naturais do país. A falta de alternativas de emprego, a débil fiscalização ambiental e a ausência de políticas públicas inclusivas transformam cada nova descoberta de ouro num foco de instabilidade social.
O garimpo artesanal, além de representar risco para a vida dos mineiros, tem causado sérios danos ambientais. A contaminação dos rios com mercúrio, a degradação dos solos e o desmatamento são consequências visíveis de uma exploração feita à margem da lei e da sustentabilidade.
Embora a mineração artesanal sem licença seja ilegal, a repressão isolada tem demonstrado pouca eficácia. Em Mucododzi, tal como em outras zonas auríferas de Manica, a intervenção policial apenas desloca os garimpeiros para áreas mais remotas, o que torna o controlo ainda mais difícil.
Organizações da sociedade civil defendem que o Governo deve repensar o modelo de gestão do sector mineiro artesanal, apostando na criação de cooperativas locais e em programas de capacitação. Segundo estas entidades, integrar os garimpeiros na economia formal seria uma forma de reduzir os riscos e aumentar a arrecadação fiscal.
Entretanto, Mucododzi continua a atrair novos garimpeiros provenientes de diferentes pontos do país, todos movidos pela esperança de encontrar no ouro uma saída para as dificuldades que enfrentam.
O fenómeno levanta uma questão fundamental: até que ponto Moçambique conseguirá equilibrar o aproveitamento dos seus recursos naturais com a necessidade de garantir desenvolvimento social e inclusão económica?
Em Mucododzi, a resposta ainda está a ser procurada, com enxadas, pás e muita determinação de quem acredita que, no brilho do ouro, pode estar escondida a promessa de um futuro melhor.