A introdução do sistema de bilheteria eletrónica em Moçambique está a redefinir a forma como as instituições públicas e privadas gerem eventos, pagamentos e controlo de acesso.
Trata-se de uma das mais significativas inovações tecnológicas da última década, com impacto direto na eficiência administrativa, na redução da burocracia e na promoção de um ambiente económico mais transparente e competitivo.
O novo sistema digital, que substitui integralmente os bilhetes físicos, assenta num modelo automatizado que liga cidadãos, empresas e instituições através de plataformas electrónicas seguras. A digitalização dos processos administrativos representa, para muitos analistas, um marco essencial na modernização tecnológica do país.
A bilheteria eletrónica permite que as transações sejam feitas de forma rápida, rastreável e sem necessidade de intervenção manual, eliminando práticas que, durante anos, dificultaram o funcionamento de eventos, feiras e serviços públicos. Este avanço tecnológico contribui para a eficiência operacional e reforça a confiança nas instituições.
Segundo o engenheiro eletrónico Filimão Soares, de Maputo, esta transformação “demonstra maturidade tecnológica e capacidade de inovação nacional”. O especialista realça que a automatização “melhora a gestão financeira e garante maior transparência no uso dos recursos”.
A engenheira Julieta Casimiro, consultora em sistemas de informação, sublinha que “a digitalização de serviços como a bilhética eletrónica não é apenas um passo técnico, mas uma reforma estrutural que cria novas oportunidades de desenvolvimento e emprego tecnológico”.
A aplicação prática deste sistema teve o seu maior teste na 60.ª edição da Feira Internacional de Maputo (FACIM 2025), onde, pela primeira vez, todas as entradas e transações foram processadas por via electrónica. Coordenada pela Agência para a Promoção de Investimento e Exportações (APIEX), a experiência demonstrou a robustez do modelo e a sua aceitação pelo público.
Mais de 80% das entradas na feira foram adquiridas através de pagamentos digitais, com destaque para o M-Pesa, que consolidou a sua posição como principal plataforma de transações móveis no país. A integração entre o portal da feira e os sistemas de pagamento permitiu uma experiência moderna, fluida e segura, tanto para expositores como para visitantes.
A iniciativa não se limitou à modernização do processo de bilhética. Representou a materialização de um novo modelo de negócios sustentado por tecnologias emergentes, no qual a automatização e o tratamento inteligente de dados são fundamentais para a gestão e análise de desempenho em tempo real.
Durante o evento, fintechs e startups moçambicanas mostraram a sua capacidade de desenvolver soluções escaláveis e seguras, reforçando a confiança na inovação local. A interoperabilidade entre sistemas, o controlo automatizado de receitas e a redução de custos operacionais tornaram-se evidências práticas do potencial das tecnologias nacionais.
A FACIM 2025 revelou também o impacto ambiental positivo da digitalização. A substituição dos bilhetes impressos reduziu significativamente o consumo de papel e os resíduos associados, demonstrando que a tecnologia pode caminhar lado a lado com a sustentabilidade.
O modelo de bilhética eletrónica poderá agora ser expandido a outros sectores, como transportes públicos, eventos culturais e serviços municipais. Analistas consideram que esta simplificação digital deve ser uma prioridade nacional, capaz de impulsionar a economia e aproximar Moçambique das práticas tecnológicas mais avançadas do continente.
Para Filimão Soares, o sucesso do sistema “dependerá da capacitação técnica dos profissionais e da segurança das infraestruturas digitais”. O engenheiro adverte que é necessário garantir a proteção de dados e investir em cibersegurança para consolidar a confiança pública.
Julieta Casimiro acrescenta que “a transformação digital deve ser inclusiva”, salientando a importância de políticas que assegurem o acesso de todos os cidadãos às ferramentas digitais. “A tecnologia é um instrumento de progresso quando serve as pessoas”, afirmou.
Com esta experiência pioneira, Moçambique posiciona-se como um novo polo de inovação tecnológica em África. A bilhética eletrónica, associada às soluções financeiras digitais, simboliza um país em transição para uma economia mais inteligente, sustentável e orientada para o futuro.