Na última quinta-feira, a Praça da Juventude, em Magoanine, Cidade de Maputo, ganhou novo fôlego com a plantação simbólica de 80 árvores, numa iniciativa promovida pela Fundação Internacional WeLoveU, em parceria com o Conselho Municipal de Maputo.
O evento, enquadrado no projeto global “Jardim da Mãe”, teve como principal objetivo revitalizar espaços urbanos e sensibilizar para a importância da protecção ambiental.
O gesto é louvável, sobretudo num contexto onde Maputo, como tantas outras cidades africanas, sofre com o calor extremo, a poluição e a degradação dos seus espaços verdes. No entanto, por mais bem-intencionada que seja a acção, ela também levanta algumas interrogações legítimas sobre continuidade, impacto real e coerência com políticas públicas de ambiente a médio e longo prazo.
Um começo necessário, mas não suficiente
De facto, o plantio de árvores traz benefícios claros: melhora da qualidade do ar, criação de sombra, atração de biodiversidade e valorização dos espaços públicos. A comunidade local respondeu , e os discursos durante o evento sublinharam o desejo de transformar a Praça da Juventude num lugar mais aprazível e funcional. Entretanto, é preciso questionar: o que será feito para garantir que essas árvores cresçam saudáveis
e cumpram seu papel ecológico? Há planos concretos de rega, manutenção e vigilância? A história de Maputo está repleta de iniciativas pontuais que, pela ausência de seguimento, se transformaram em gestos simbólicos sem continuidade prática. Nesse sentido, o gesto da Fundação WeLoveU corre o risco de ser mais um “evento verde” sem impacto estrutural, a
menos que se insira num plano de arborização mais abrangente e institucionalmente sustentado.
O papel da sociedade civil e o silêncio institucional
É encorajador ver o envolvimento da sociedade civil e de jovens voluntários, como destacou a engenheira florestal Fátima Uacheque, que apontou a importância da educação ambiental e da replicação deste tipo de acções noutras províncias. No entanto, a ausência de uma estratégia clara por parte do Estado — especialmente do Ministério da Agricultura e Ambiente — evidencia uma lacuna de coordenação entre entidades públicas e privadas no combate aos desafios ecológicos do país.
Mais preocupante ainda é a fragilidade das políticas de ordenamento urbano, que continuam a permitir desmatamento em larga escala e o crescimento desordenado de bairros, muitas vezes sem espaços verdes planejados. Neste cenário, plantar árvores torna-se um paliativo quando o problema é estrutural.
Da caridade ambiental ao compromisso político
Embora a Fundação WeLoveU atue com motivações humanitárias e ecológicas — e tenha experiência internacional em causas nobres como doação de sangue e apoio em desastres —, é essencial lembrar que a verdadeira mudança ambiental passa por compromissos políticos, não apenas por ações simbólicas.
A fundação tem metas ambiciosas — plantar um milhão de árvores em 65 países — mas o impacto local só será duradouro se houver articulação com programas públicos de sustentabilidade urbana.
Como bem sugeriu Uacheque, seria oportuno o Ministério da Agricultura e Ambiente assumir um papel mais proativo, não apenas como presença simbólica, mas como agente articulador de um plano nacional de arborização urbana.
Um sopro de esperança que exige coerência e continuidade
Em resumo, a acção realizada em Magoanine é um passo positivo — simbólico, educativo e ambientalmente necessário. Mas o verdadeiro desafio está por vir: garantir que estas árvores não apenas sobrevivam, mas prosperem. E, mais ainda, que inspirem uma política ambiental coesa, abrangente e descentralizada, capaz de chegar aos distritos, combater o desmatamento, educar as futuras gerações e reverter a tendência de degradação ambiental no país.
O plantio de árvores deve deixar de ser evento pontual e passar a ser política contínua. Só assim Magoanine — e Moçambique — poderá realmente respirar ar puro, não apenas hoje, mas pelas
décadas que virão.