“Antes de as mineradoras chegarem, produzíamos muito… Agora já não.” “Não se importam connosco”. “Nem vale a pena reclamar”.
É neste tom que as comunidades expressam o seu descontentamento em relação à actividade mineira realizada no distrito de Moatize.
Estas comunidades observam, impotentes e em primeira mão, as suas terras e a sua capacidade de produção a serem trocadas por um sonho de desenvolvimento cada vez mais distante, à medida em que a pobreza cresce no seio de suas famílias.
Mas a questão que não se cala é: “O que esperar num lugar em que o grupo de excluídos e insatisfeitos só aumenta”?
O objectivo deste Observador Rural foi analisar o impacto da mineração do carvão na produtividade agrícola de Moatize, focando essencialmente nas comunidades que vivem nas proximidades das minas. Para tal, foi realizada uma colecta de dados primários no distrito, por meio de inquéritos e entrevistas, para perceber a situação socioeconómica das comunidades locais (com foco especial na agricultura) no período anterior e posterior à actividade mineira. Foram também recolhidas amostras de solo a fim de analisar o impacto da poluição dos solos na produtividade agrícola em Moatize.
Entre os principais resultados, destaca-se a redução na produção de algumas culturas agrícolas no ano de 2022, quando comparada ao período anterior a 2021 (ano de inauguração do complexo mineiro para extracção de carvão em grande escala).
Segundo a informação obtida nos inquéritos, a perda de terras para a mineração, a poluição por poeiras e a redução da disponibilidade da água podem ter contribuído para uma baixa na produtividade, produção e rendimentos agrícolas a nível local.
As análises laboratoriais das amostras recolhidas revelaram contaminação dos solos de Moatize por substâncias, como cobre, crómio, ferro, manganês e zinco, existindo a possibilidade destes contaminantes serem de origem mineira. (In OMR)