O economista moçambicano Egas Daniel defendeu, esta quarta-feira, em Maputo, a necessidade de o sector privado aumentar a sua capacidade produtiva, como estratégia para criar equilíbrio cambial e travar a escalada da inflação no país.
Daniel falava durante a apresentação do relatório preliminar de um estudo sobre a problemática da escassez de divisas em Moçambique, um fenómeno que, segundo disse, continua a afectar a dinamização do mercado nacional e a competitividade das empresas.
Apesar de reconhecer que o país atravessa um período de forte restrição na disponibilidade de moeda estrangeira, o economista sublinhou a importância de se aprimorar políticas económicas capazes de aliviar a pressão sobre a banca comercial, permitindo que esta disponibilize mais divisas ao sector produtivo.
Para o académico, o estímulo à produção nacional não pode estar dissociado de incentivos fiscais concretos, uma vez que estes constituem um factor crucial para o desenvolvimento económico e para a redução das desigualdades sociais. “Sem incentivos, a capacidade de investimento das empresas fica limitada e o país permanece dependente de importações”, advertiu.
O relatório preliminar apresentado aponta que a escassez de divisas tem provocado uma cadeia de constrangimentos que começa na importação de matérias-primas e vai até ao consumidor final, com reflexos diretos no aumento dos preços e na perda de poder de compra das famílias.
O problema, no entanto, não afeta apenas as grandes e médias empresas. Os vendedores informais transfronteiriços, conhecidos como “mukeristas”, também têm sentido de forma acentuada os impactos dessa escassez, conforme revelou o presidente da associação que os representa, Sudekar Novela.
Novela afirmou que o cenário actual compromete a actividade dos comerciantes que dependem de importações, sobretudo de países vizinhos, e que têm encontrado sérias dificuldades para obter divisas através do sistema bancário formal.
“Os bancos comerciais carecem de moeda estrangeira e isso obriga muitos dos nossos associados a recorrerem ao mercado paralelo para conseguir viabilizar as suas operações”, disse o dirigente associativo, alertando que esta situação aumenta os custos e expõe os comerciantes a riscos legais e de segurança.
De acordo com os intervenientes no encontro, a conjugação de políticas públicas mais eficazes, incentivos à produção local e mecanismos que assegurem o acesso a divisas será determinante para reverter o actual quadro económico.
O relatório final sobre a escassez de divisas em Moçambique deverá ser divulgado nos próximos meses, com recomendações específicas para os sectores bancário, produtivo e comercial, visando melhorar a estabilidade cambial e o ambiente de negócios no país.