Durante décadas, o Jardim Zoológico de Maputo foi uma referência incontornável de lazer, educação ambiental e contacto com a fauna bravia moçambicana. Conhecido como a “maravilha do século XX”, o espaço marcou gerações do período colonial, do pós independência e de muitos anos subsequentes, sendo quase obrigatório constar no roteiro de quem crescia ou visitava a capital do país.
Fundado em 1929 por um grupo de veterinários portugueses reunidos na Associação do Jardim Zoológico de Moçambique, o espaço nasceu com a missão de servir como reservatório de espécies de fauna e flora selvagem do território. Na década de 40, o zoológico recebeu visitas de altos dirigentes coloniais, reforçando o seu estatuto de local emblemático e de prestígio social.
Imagens e memórias das décadas de 80 e 90 retratam um jardim vivo e diversificado, onde se destacavam leões, avestruzes, gado bovino e o carismático hipopótamo que atraía milhares de visitantes. Em tempos áureos, o zoológico chegou a albergar mais de 90 animais de diferentes espécies, entre mamíferos, répteis e aves, consolidando se como um dos maiores espaços de conservação urbana do país.
Quase nove décadas depois da sua criação, o cenário é profundamente distinto. Grande parte da diversidade biológica perdeu se com o passar do tempo e, actualmente, o zoológico conserva menos de metade dos animais que outrora abrigou. Os exemplares que restam são, na sua maioria, envelhecidos, exigindo cuidados especializados e custos elevados de alimentação e manutenção.
O reservatório que durante anos foi a casa do hipopótamo encontra se hoje completamente seco. A vegetação tomou conta do espaço onde vivia “Marracuene”, nome carinhoso pelo qual o animal era conhecido, deixando um vazio simbólico que traduz o declínio gradual do recinto.
Outro ícone do jardim, o chimpanzé “João Tocuene”, sobrevive apenas na memória dos visitantes e numa imagem afixada na jaula que ocupou durante muitos anos. Com uma idade estimada em cerca de 70 anos, o animal foi transferido para a África do Sul, onde passou a viver numa reserva com melhores condições de sobrevivência.
As jaulas outrora ocupadas por ursos, leões, pássaros e outros animais permanecem hoje vazias, despertando nostalgia em quem ainda visita o espaço. O silêncio que impera contrasta com o movimento e a vitalidade que marcaram outras épocas, reforçando a sensação de abandono progressivo.
Para além da perda de fauna, o Jardim Zoológico de Maputo viu a sua área física ser drasticamente reduzida.
Dos cerca de 90 hectares iniciais, restam actualmente apenas 35, após sucessivas invasões por habitações do bairro de Inhagoia.
A direcção do zoológico denuncia ainda o abate de árvores para lenha e actos de vandalização das infra estruturas, factores que agravam o estado de degradação e colocam em causa o futuro de um dos mais emblemáticos patrimónios históricos e ambientais da capital.







