Um momento marcante na luta contra a malária em Moçambique, mas também na história do Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM). Hoje, o país passa a contar com a vacina da malaria como mais uma ferramenta de controlo da doença no país. malária, a vacina R21/Matrix-M, uma vacina similar a RTS,S/Mosquirix, recomendada pela OMS há dois anos, para a qual o CISM contribuiu de forma significativa para o seu desenvolvimento clínico.
O lançamento da campanha de vacinação foi realizado na última segunda-feira (05), na província da Zambézia, Quelimane, pelo Ministro da Saúde, Armindo Tiago. A mesma será contemplada no Programa Alargado de Vacinação, numa primeira fase, para menores de cinco anos, com objectivo de reduzir as complicações por malária.
“A selecção da província da Zambézia como pioneira é devido ao elevado número de casos e óbitos por malária reportados em crianças menores de 5 anos”, explica a Nota Oficial do Ministério da Saúde, acrescentando que, face à “disponibilidade limitada da vacina contra a malária no mercado”, a introdução “será feita de forma faseada”, iniciando naquela província “em todas as unidades sanitárias dos 22 distritos”.
“A partir do próximo ano, a vacina será expandida para outros locais do país, em função das prioridades e disponibilidade da vacina no mercado”, refere a nota.
No seu discurso pela ocasião, o Ministro da Saúde, considerou que a introdução desta vacina representa o compromisso do governo com a saúde das crianças, que são o futuro do país.
“Portanto, continuaremos a desenvolver todos os esforços de modo que, as crianças moçambicanas tenham acesso a todas as vacinas que se julgarem necessárias para aumentar a sobrevivência infantil”, disse Armindo Tiago, tendo endereçado o apreço aos vários pesquisadores moçambicanos, que ao longo dos anos dedicaram sua energia e saber, nos ensaios clínicos sobre vacinas da malária, de forma particular “aos nossos colegas do Centro de Investigação em Saúde da Manhiça”, acrescentou.
Ariel Nhacolo que representava o CISM na cerimónia do lançamento da vacina afirma que o Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM) foi devidamente reconhecido, durante o evento, como parte contribuinte do processo da produção da vacina, pelo Ministro da Saúde e diversos parceiros. “Estivemos bem representados neste momento singular aqui em Quelimane, site onde trabalhamos há 6 seis anos. E penso que ficou claro o nosso papel como um dos intervenientes principais na introdução da vacina. Esperamos mais conquista advindas das nossas pesquisas”, disse o representante do CISM.
O Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM) em parceria com o Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal) trabalhou durante aproximadamente uma década no desenvolvimento clínico da Vacina RTS,S. Em 2003 realizaram um estudo que permitiu demonstrar a segurança e eficácia da vacina contra a malária em crianças moçambicanas, e que abriu espaço para o ensaio clínico multicêntrico de fase III. Os resultados deste ensaio clínico realizado durante aproximadamente cinco anos em 13 centros de investigação de oito países africanos, incluindo Moçambique através do Centro de Investigação em Saúde de Manhiça, juntamente com a GlaxoSmithKline (GSK) e a PATH Malaria Vaccine Initiative (MVI), sob financiamento da Fundação Bill & Melinda Gates, permitiu que a OMS recomendasse a realização do programa piloto, obtendo o status de pré-qualificação em Julho de 2022.
Em Outubro de 2023, a OMS, adicionou a vacina contra malária R21/Matrix-M à sua lista de vacinas pré-qualificadas. As 2 vacinas têm formas de acção semelhantes, mas com a sua aprovação foi possível aumentar a produção em tempo útil e baixar o preço unitário estimado de cerca de metade em relação à RTS,S.
Segundo Francisco Saúte, Director Geral do CISM, “este é um passo muito importante na luta contra a malária, e sem dúvidas representa um grande orgulho para o CISM, mas também para os moçambicanos, pois, podemos afirmar que contribuímos de forma significativa para o desenvolvimento clínico da primeira vacina contra a malária e consequentemente para redução dos casos da doença”.
A vacina adotada “é de administração intramuscular” e será administrada com outras vacinas em todas as Unidades Sanitárias e nas brigadas móveis de acordo com o calendário vacinação do país.
Pedro Aide, Director Científico do CISM e Co-Investigador dos Estudos da vacina contra a malária manifesta a sua satisfação por ter feito parte do desenvolvimento clínico e melhoramento de uma ferramenta de controlo desta doença que registrou no país 6,2 milhões de casos no primeiro semestre de 2024. “Foram vários anos de ensaios clínicos para podermos celebrar hoje.
Receber essa notícia de lançamento da campanha de vacinação faz-nos ter a certeza de que o trabalho que vemos desenvolvendo nesses 28 anos de existência do CISM, tem resultados e impacto concretos”, disse Aide.
Em Moçambique, a malária continua a ser uma das principais preocupações para o Sistema Nacional de Saúde, e o país é um dos 4 países que concentram a metade dos casos de malária em todo o mundo, segundo dados do relatório mundial da malária da Organização Mundial da Saúde, OMS, (WHO World Malaria Report, 2023).
A região Africana é a mais afectada por esta doença, que concentrou em 2018 cerca de 94% dos casos e 95% de todas as mortes no ano 2022, segundo o relatório mundial da malaria do ano 2023. Portanto, a adição da vacina às intervenções actualmente recomendadas para o controlo da malária pode salvar dezenas de milhares de vidas anualmente e reduzir a mortalidade infantil em África.