O Director Nacional do Ambiente e Mudanças Climáticas reiterou a urgência de Moçambique adoptar um novo enquadramento estratégico para enfrentar os desafios ambientais.
Francisco Sambo destacou que a actual abordagem já não responde de forma adequada às exigências impostas pelos mecanismos internacionais de financiamento climático, razão pela qual se impõe uma mudança de orientação que permita ao país competir de forma mais eficaz por recursos destinados à mitigação e adaptação.
A reflexão foi apresentada durante o Seminário Nacional de Fortalecimento de Capacidade de Supervisão e Monitorização de Projectos do Fundo Global do Ambiente, encontro que decorreu na praia de Macaneta, no distrito de Marracuene.
Numa intervenção marcada por tom crítico, Sambo sublinhou que a vulnerabilidade ambiental, frequentemente invocada por Moçambique, já não constitui argumento suficiente para captar financiamentos de grande escala, porque os parceiros internacionais exigem evidências de gestão rigorosa e resultados consistentes.
O dirigente explicou que o país necessita de desenvolver uma estratégia mais robusta, capaz de integrar esforços entre sectores, consolidar sistemas de monitorização e demonstrar capacidade técnica para executar projectos com impacto mensurável.
Para Sambo, o acesso ao financiamento depende não só da dimensão dos riscos climáticos, mas também da forma como as instituições nacionais articulam intervenções e traduzem metas em práticas verificáveis no terreno.
O Fundo Global do Ambiente, criado em 1991 com a missão de apoiar países em desenvolvimento na gestão sustentável dos seus recursos, tem sido um parceiro relevante para Moçambique.
Desde 2018, o GEF aplicou no país aproximadamente quarenta e quatro vírgula nove milhões de dólares norte americanos, destinados a projectos de conservação e redução da vulnerabilidade climática.
Contudo, Sambo considera que estes montantes continuam aquém das necessidades reais, sobretudo face ao crescimento das pressões ambientais.
O seminário procurou igualmente estimular uma reflexão conjunta sobre a necessidade de reforçar a capacidade institucional para lidar com projectos de grande dimensão.
Sambo apelou para que os vários sectores intensifiquem o seu envolvimento na agenda climática e promovam o intercâmbio de experiências, convicto de que uma actuação coordenada permitirá melhorar o desempenho nacional e aumentar a credibilidade perante os financiadores internacionais.
Os debates destacaram ainda evidências preocupantes sobre o estado do ambiente no continente africano.
Estudos recentes indicam que cerca de quarenta e cinco por cento das terras estão severamente afectadas pela degradação dos solos e pela desertificação, processos que têm origem predominantemente humana.
A pressão sobre os recursos hídricos também foi destacada, uma vez que oitenta e cinco por cento da água doce consumida em África está ligada à actividade agrícola, sector que sustenta a alimentação e o emprego de grande parte da população.
Os participantes encerraram o encontro com o consenso de que Moçambique precisa rever o seu posicionamento na arquitectura global de financiamento climático.
A aposta passa por fortalecer a governação ambiental, melhorar a qualidade dos projectos submetidos e promover uma narrativa sustentada em resultados concretos.
Para as autoridades presentes, apenas com esta mudança de paradigma será possível ampliar o acesso a fundos internacionais e garantir avanços reais na construção de um modelo de desenvolvimento resiliente e sustentável.







