Lavrov alerta para “tendência perigosa” na Europa e nega integridade territorial da Ucrânia
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, lançou duras críticas ao Ocidente, alertando para uma “tendência perigosa” de militarização e antagonismo crescente, que, segundo afirmou, poderá ter consequências profundas e duradouras para todos os europeus.
Em entrevista ao jornal húngaro Magyar Nemzet, Lavrov acusou a NATO de estar a transformar a Ucrânia numa “ponte militar” para conter a Rússia, alertando que a Aliança Atlântica se converteu num bloco político-militar com agenda beligerante.
Num tom firme e desafiante, Lavrov reiterou a posição russa segundo a qual o princípio da integridade territorial não pode ser aplicado à Ucrânia, por considerar que o atual regime de Kiev “não representa” a totalidade do seu povo. “É claro para qualquer observador imparcial que o regime de Kiev, que elevou a russofobia a um nível de política de Estado, não representa a população russa das regiões da Ucrânia, incluindo a Crimeia, Sevastopol, Lugansk, Donetsk, Zaporizhzhia e Kherson”, declarou.
De acordo com o chefe da diplomacia russa, os cidadãos que se identificam como russos na Ucrânia têm sido sistematicamente discriminados, sendo privados do direito de preservar a sua língua, cultura, religião e identidade. Citando declarações passadas do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, Lavrov acusou-o de ter apelado, em 2021, para que os habitantes do sudeste da Ucrânia se “escondessem na Rússia”, se quisessem garantir o futuro dos seus filhos — uma afirmação que o Kremlin considera reveladora da hostilidade de Kiev contra populações russófonas.
Lavrov defende que, nesse contexto, o Estado ucraniano perde legitimidade para reivindicar sua integridade territorial com base no direito internacional. “Se um governo não representa parte significativa do seu povo, não pode invocar esse princípio com legitimidade”, argumentou.
Questionado sobre a crescente aproximação entre a Ucrânia e a NATO, Lavrov responsabilizou diretamente a Aliança Atlântica pela escalada do conflito. A seu ver, a presença crescente da NATO no território ucraniano representa uma “ameaça direta” à segurança nacional da Rússia. “A NATO há muito deixou de ser uma aliança defensiva. A instalação de bases e o envolvimento da Ucrânia nesse bloco militar são atos de provocação, que comprometem o equilíbrio regional”, sustentou.
O ministro russo relembrou ainda que, no final de 2021, Moscovo apresentou propostas formais aos Estados Unidos e à NATO para a obtenção de garantias de segurança mútua, mas que estas foram “sumariamente rejeitadas”. Lavrov afirma que o Ocidente optou por fornecer mais armamento à Ucrânia, estimulando a resolução do conflito no Donbass e da questão da Crimeia pela via militar. “Não nos deixaram outra escolha a não ser lançar uma operação militar especial. Tenho a certeza de que qualquer país que se preze teria feito exatamente o mesmo”, declarou, reafirmando a justificação do Kremlin para a invasão da Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022.
Em resposta às alegações de que Vladimir Putin pretende expandir sua influência militar sobre o continente europeu, Lavrov desvalorizou o que classificou como “narrativa da ameaça russa”, considerando-a uma manobra política para encobrir os fracassos internos dos governos europeus. “É uma forma de desviar a atenção da inflação, do desemprego crescente, da imigração ilegal, da criminalidade e da perda de qualidade de vida. Os líderes europeus alimentam um discurso de medo para mascarar a sua própria incapacidade”, afirmou.
O chefe da diplomacia russa expressou ainda preocupação com a crescente militarização da União Europeia e a sua aproximação incondicional à NATO, acusando Bruxelas de perder a sua vocação integradora para se tornar um braço político da Aliança Atlântica. “É triste e alarmante ver a Europa unida incitar sentimentos antirussos e clamar por guerra. A UE passou de um projeto de integração para um bloco político-militar. Esta é uma tendência perigosa que pode ter consequências a longo prazo para todos os europeus”, concluiu.
As declarações de Lavrov surgem num momento de renovada tensão entre Moscovo e o Ocidente, quando a guerra na Ucrânia entra no seu terceiro ano sem sinais de resolução diplomática. Com a aproximação da cimeira da NATO e a contínua discussão sobre o apoio militar a Kiev, os avisos russos ressoam com peso político e retórico, deixando a Europa diante de uma encruzilhada de segurança e estabilidade no médio prazo.







